Era Amor
Ontem
sonhei com teus olhos quais esmeraldas
tardias
Na
muda vertigem evanescente que vem roubar
fôlegos
No
peito outrora inanimado palpitando arisco a galope
O
coração, translúcido, entre todos astros do cosmos
Em sua
vibração inaudita, a narrar infindas metáforas
E,
íntimo de espanto, ousa nominar de
amor tal sentir
Líquidas
vogais em melodia serena que a
chuva entoa
Ao
cair no zinco do telhado vinha para recitar
poesias
Enlevados
na música desse rio vertical que cai do céu
Por
mais que o poema escave na caverna dos fonemas
Sei não o dirás nessa tua formosa boca rubra de rubi
Mas sei era o amor a nos envolver ao juntar os lábios
Qual crianças perdidas na noite rompendo
distâncias
De
mãos dadas a caminhar sonâmbulas pelas estradas
Meio a
encantos e serpentes, arcanos e
confidências
Teu
corpo insinuante, tua pele sob meus dedos
ávidos
Desenhando
um trajeto de ousadia e curvas
sinuosas
Mas
mais que curvas e desejo, o amor na
sua essência
Devo
sucumbir à impotência de quaisquer vocábulos
Hábeis
para descrever sentimentos: a voz embargada
Que
recita versos com o tédio que só o domingo tem
A ânsia de erguer o manto do poema da segunda feira
Imitando
a água do rio e sua virtude de ser
disforme
Sabendo foi amor o fogo que nos aquecia no inverno
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