segunda-feira, julho 1

Era Amor

Ontem sonhei com teus olhos quais esmeraldas tardias
Na muda vertigem evanescente que vem roubar fôlegos
No peito outrora inanimado palpitando arisco a galope
O coração, translúcido, entre todos astros do cosmos
Em sua vibração inaudita, a narrar infindas metáforas
E, íntimo de espanto, ousa nominar de amor tal sentir
 
Líquidas vogais em melodia serena que a chuva entoa
Ao cair no zinco do telhado vinha para recitar poesias
Enlevados na música desse rio vertical que cai do céu
Por mais que o poema escave na caverna dos fonemas
Sei não o dirás nessa tua formosa boca rubra de rubi
Mas sei era o amor a nos envolver ao juntar os lábios
 
Qual crianças perdidas na noite rompendo distâncias
De mãos dadas a caminhar sonâmbulas pelas estradas
Meio a encantos e serpentes, arcanos e confidências
Teu corpo insinuante, tua pele sob meus dedos ávidos
Desenhando um trajeto de ousadia e curvas sinuosas
Mas mais que curvas e desejo, o amor na sua essência
 
Devo sucumbir à impotência de quaisquer vocábulos
Hábeis para descrever sentimentos: a voz embargada
Que recita versos com o tédio que só o domingo tem
A ânsia de erguer o manto do poema da segunda feira
Imitando a água do rio e sua virtude de ser disforme
Sabendo foi amor o fogo que nos aquecia no inverno

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