quarta-feira, outubro 16

Contradança

Tolo eu que acreditei que a morte era só outra forma de ser
Mas, a terra se abriu e tragou tua imagem para nunca voltar
E sobre o mármore frio, escada de cru silêncio, só uma foto
Que tempo evanescerá como as outras que vi pelo caminho
Acho que levaste contigo o canto dos pássaros da alvorada
É como se uma maré de medo imóvel, tomasse conta de mim
Calando a pena de meus escritos, murando meus dicionários
Pois não descobri uma palavra justa que coubesse no poema
Ou que pudesse aliviar meu coração impávido diante do fim
Agora sei que a morte se assenta, dia a dia em nossos poros
Para nos cortejar sem que possamos presenciar ou impedi-la
Com sua sombra tecida de tempo, em labirintos intangíveis
Sem nomes, deixando para trás todas ilusões e esperanças
Enquanto nos perdemos em detalhes somenos importantes
E nosso tempo de vida incerto esvaindo em gestos inócuos
Questiúnculas sem razões e logo tudo conhecido se desfaz
Tudo que já fomos se evapora, senão uns átomos teimosos
Vivos no armazém da memória num quebra-cabeça infinito
Que vão reiniciar a dança e contradança do que já fomos
E no oblívio azul, esquecidos de tudo, quiçá, fazer melhor



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