Tolo eu que acreditei que a morte era só outra forma de
ser
Mas, a terra
se abriu e tragou tua imagem para nunca voltar
E sobre o
mármore frio, escada de cru silêncio, só uma foto
Que tempo evanescerá como as outras que vi pelo
caminho
Acho que levaste
contigo o canto dos pássaros da alvorada
É como se uma
maré de medo imóvel, tomasse conta de mim
Calando a pena
de meus escritos, murando meus
dicionários
Pois não
descobri uma palavra justa que coubesse no
poema
Ou que pudesse aliviar meu coração impávido diante
do fim
Agora sei que
a morte se assenta, dia a dia em nossos poros
Para nos cortejar sem que possamos presenciar ou
impedi-la
Com sua sombra
tecida de tempo, em labirintos intangíveis
Sem nomes, deixando para
trás todas ilusões e esperanças
Enquanto nos perdemos em detalhes somenos importantes
E nosso tempo
de vida incerto esvaindo em gestos
inócuos
Questiúnculas sem razões e logo tudo conhecido se desfaz
Tudo que já fomos
se evapora, senão uns átomos teimosos
Vivos no armazém
da memória num quebra-cabeça infinito
Que vão reiniciar a dança e contradança do que já
fomos
E no oblívio
azul, esquecidos de tudo, quiçá, fazer melhor
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