terça-feira, outubro 29

Herança

O crepúsculo é o triste estandarte de nosso adeus
É uma cidade distante onde mora o esquecimento
Mas em mim ainda tremula a flâmula de teu sorriso
Que tinha como mastro e morada esses teus lábios
Essa é a herança que me coube dos antigos verões
Onde tu eras o monumento que adornava o parque
Porém também eras a árvore com raízes na mentira
Onde tantos versos que plantei nunca viraram flor
E a porta do jardim, indefesa, continua entreaberta
Minha cabeça hospeda sonhos não compartilhados
Um madrigal no canto de azuis pássaros vespertinos
Mas a voz que quis ouvir, se fez tão só de silêncio
Caminhei tantos caminhos margeados de espinhos
As pessoas que achei, não disfarçam tua ausência
Hoje ouço um lamento remoto, sob o céu sem luar
Sei que é tua voz atônita, sombria, no ar de outono
Qual não ouvisse mais o vento que trazia os poemas
Que um dia foram teus, mas ora voam outros ares
Sei que teu olhar perdido não pode ver a paisagem
Redescobri em meu peito um novo mar de palavras
Onde teu barco, partido, já não pode mais navegar


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