sábado, novembro 11

Intempérie

 Desde que partiste na calada da noite silenciosa e vazia

O abandono cresceu incontido, que já quase te esqueci

Memórias de solidão reunidas qual escamas justapostas

Que se desprendem uma a uma, até que não reste nada

 

A realidade é o silêncio reiterado, é a morte recorrente

Feixes de luz sem brilho, no rio volátil do esquecimento

Foi o que restou, quando renunciaste de tantos sonhos

A buscar o que parecia paraíso, na estrada do vil metal

 

Mas o que nos difere, nunca foi o que a vista pôde ver

O que me abismou foi julgares o menos qual fosse mais

E hoje derrotada, inerme e prostrada, esperas pelo fim

Que para teu desespero, nem vem dar cabo da tua dor

 

É pena, não vistes no teu mais íntimo, toda a alquimia

Que um dia nos cercou e tatuou-me de vida o coração

A vida que querias fosse um breve sopro sub-reptício

Mas por destino ou por desatino recusa-se a se render

 

Na paleta de tua escolha, realçaste a mescla ambígua

Das cores que se confluem ao negro, do céu sem luar

Como um véu infinito além dos sonhos que olvidastes

Sem ver que não foi a intempérie que te tornou frágil

 

No melhor dos casos é não termos nossa mão, já pálida

A pender, fria, de um saco preto entre desconhecidos

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