sexta-feira, novembro 17

Prima Vera

 Prima,

 

Este silêncio

nesta manhã de outono

fria como nenhuma

 

Caminho

sem pensar

nada tenho a perder

 

É domingo

Vera

os telhados escuros

da avenida vazia

os ramos secos

poucos

entrelaçados

uma pomba que belisca

a água podre da sarjeta.

 

Nenhuma alma pela rua

nem o porteiro que varre

nem os cães

 

Entre raízes da seringueira

da praça da liberdade

os sem teto

encolhidos.

 

Na banca de jornais

vomitam-se as notícias

da bolsa, do dólar

da droga, corrupção

o pássaro morto no canto

não canta

são buzinas que

rompem o silêncio.

 

Chove

e a TV só funciona

vez ou outra ou menos

a cama desfeita

lençóis amarrotados

 

não vou compartilhar com vocês

que diriam?

que tampouco viriam?

tudo bem

 

Papéis desordenados

pelo chão

esquecidos, suponho

 

A máquina de escrever

sem fita

cinzeiros cheios

E eu nem fumo

livros amontoados

 

a roupa suja de tinta

no vidro da janela

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