sexta-feira, novembro 24

Tudo e Nada

 Pássaro, sou poeta sem nome, sem estirpe

Um pássaro das letras e silabas de pássaro

Palavras ruivas, tão vermelhas, tão negras

Carregadas no vento que trouxe as chuvas

Aos olhos d'um céu cinzento, inconcebível

Um pássaro que se incendeia e renascerá

Desplumado como víbora, breve e atenta

No sutil e volátil ar se converte em águia

Para, rasante, atravessar as teias da vida

Bicar a estrela da manhã, qual fosse nada

Tocar no sonho da noite, qual fosse tudo

Numa incipiente primavera, tudo ou nada

Amanhecer enfim, dia após dia, sol rubro

Nutrido da palavra oculta, do sal da terra

E despertado, beber do vinho que é verbo

Mistério real da transmutação do pássaro

No poeta que busca na sombra e vê a luz

Nenhum comentário:

Postar um comentário