sábado, agosto 9

Insanidade

Não devo te dizer que mesmo sem ver já te amo, que meu coração insano
Pulsa em descompasso a cada ilusão de sentir teu corpo colado ao meu.
Releio este poema e duras lágrimas se arremessam incontidas pela face
Cada vez que a algoz realidade da tua distância me arranca do sonho.

Tua existência tem raízes profundas em mim, mas sou apenas sombra
De trama sustentada, em rigor, por formas em apenas duas dimensões.
Mera imitação no papel de teus singelos contornos e formas delicadas.
Parca essência coagulada em um fino véu de mil variações geométricas

É tua foto que olho sem fim como se pudesse extrair movimento e textura
Ou se essas vívidas cores em papel fossem traduzir teu perfume e sons.
Minha vida se põe suspensa numa pausa que te espera, estática mas viva
E se alonga entre as imagens brilhantes com que devaneio te encontrar

Projetando no real a tangível sensação de um esperado abraço sem fim
O sentimento de querer-te define a distância entre o vazio e o pleno
São o princípio e o nada simplificados em um só sentimento - saudade
Saber que existes transforma o finito em infinito, a sombra em ser

Ainda que nunca me seja dado correr os dedos ao longo de teu rosto
Percorrendo-te cada curva em lentas carícias, eternamente e sem fim
Com volúpia fazer meus pássaros habitarem teu corpo a cada por de sol
E de teus lábios sorver o silêncio, apagar do dicionário a palavra solidão

Mas hoje não, somente a amargura é a velha e pertinaz companheira
Que diz: acorda tresloucado coração. Acordado resta uma única certeza
Viverás em mim na mesma intensidade com que o sol cresta o solo
Profundamente como um delírio feliz do qual não se quer despertar


A matéria não é o real e o existir é uma flor esquecida num lugar azul.

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