quarta-feira, agosto 6

Outros tempos

Os tempos vividos teceram nós invisíveis em mim

Moviam-se alheios em torno de eixos excêntricos

Cobriam cada passo do caminho, feitos do vazio

Estavam sempre despertos, eram avesso do amor

 

Era um intangível nó, uma viva negação do viver

Cavava um abismo sob meus pés, sem me devorar

Lutei insanamente, vi a vivificação do desespero

Que o frio da sombra projetava solidão e insônia

 

O nó fez do voo o nada, fundiu o corpo ao vácuo

Desenhou uma trilha de lágrimas sobre meu rosto

Quantos gestos se apagaram e passos evanesceram

Aditou a imagem, fez prisioneira nas orlas do zero

 

Mas a luz em plena vibração promoveu o encontro

E desfez os nós que prendiam o espaço e o tempo

Simulava o silêncio, mas então retoma movimento

Renovados sentimentos florem ao passar dos dias

 

Desdobrando um círculo imortal dentro da noite

O querer transborda o silêncio até o limite da luz

O peito vazio se enche da voz sussurrada em azul

A pulsação que enfim reencontra o veio de ouro

 

O que era deserto se refez e fulgura mata densa

Há organismos translúcidas onde eram cavernas

Cada toque pulsa no corpo, qual fosse vertigem

Mesclam-se à luz que invade uma alma renovada

 

As vertentes que foram abertas para a passagem

Completam os ângulos tênues desfazem o silêncio

Desdobram-se na essência real do espaço e tempo

Acendem o fogo da iniciação à vida os corpos nus

 

Passadas as gerações, nestas já amareladas páginas

Alguém relerá linhas fugazes de um convívio alado

Medida exata de frases ao vento a vencer o silêncio

A descobrir que só o amor é o que recompõe a vida

Um comentário: