sábado, agosto 9

Terríveis pássaros

Terríveis pássaros gerados pela febre e pelo delírio
Vêm sobrevoar meu rosto e me deformar a visão
Vindos de um espaço negro e sem forma definida
Nutrem-se de meu desespero e crescem ferozes.
Nada de vida nasce do sangue derramado pelas calçadas

Eu já devia saber.  Ao contrário afoga minha esperança.
Olho no espelho e meus olhos inundados estão verdes
Contrastando com o rubra moldura que os envolve.
Estou só, e é uma solidão oprimente roubando meu fôlego
Apertando meu peito e turbando meus pensamentos.

Estendo minhas mãos com os dedos abertos em súplica
Mas nada alcanço, diante de mim só há um grave vazio.
Presente somente a ausência de quem amo com loucura.

As sombras da vida desfilam aflitas diante de mim
no meu campo de visão como uma multidão de retirantes
em seu andar serpentino, acendendo a fúria do abandono.

Tudo que ouço são rumores de uma angústia infinda
Gerando-se como uma crisálida sinistra e transparente.
Meus temores tomam vulto em futuras cicatrizes
Em que a morte é companheira constante dos dias,
E o sol é apenas uma lembrança dolorida neste calvário.

Sinto-me como se dormisse e sonhasse com uma vida
Em que as pessoas são distantes como os dias de verão
E a ternura apenas se cultiva mas não se pode viver.
Sei que minhas palavras ficarão apenas nas escadas do tempo
Frias tal qual os invernos em se oculta nosso coração

É como o esperar o calor, em vão, até que o som do telefone
Com suas garras, te arranque do sonho e da espera querida
O dia amanhece real e frio, cinza como deve ser a dor

De quem tem o coração em pedaços, mudo e morto.
As janelas que davam para a vida estão fechadas
E a doçura é apenas uma figura distante desenhada no passado

De onde, um dia, alguém ao olhar para baixo saberá
Que minha dor, ao que parece sem fim, esteve aqui
Estampada em meu rosto, mas a pressa dos dias corridos
No anonimato das idas e vindas por ladeiras inglórias

E nem por isso tudo me impedirá de voltar a amar.  

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