quarta-feira, agosto 6

Clarões

Por todos os reinos e nos confins, clarões

Impiedosamente os céus varriam o campo

Açoitando de vento e chuva o ar da noite

e aos rebanhos a subir e descer as ladeiras

Lá dentro, o ar recendia à terra molhada

 

Chovia como lágrimas de uma noite em fúria

Acho que a vejo qual lágrimas porque choro

Em silêncio, com meu olhar distante e febril

Penso nela, o céu cinza de nuvens se inflama

Repouso o rosto face à janela entre as mãos

 

Somente a imagem dela me acalenta a fronte

Entre soluços que não querem ser consolados

É apenas isso. A noite avança e sigo desperto

A noite avança fria e eu não me deixo render

Mesmo pensando nas flores que ora não vejo

 

Penso no que veste a solidão macia do campo

Antes do dia, a terra será lavada muitas vezes

E o sol nascerá tal a grande estrela da manhã

Está em meu sonho das alvoradas da infância

Crescendo anseio de reaver a criança em mim

 

Logo será dia e as folhagens se preparam à luz

Bem pouco do céu azula para lá das vertentes

Anuncia o verde da manhã a fertilizar palavras

Palavras que só saibam dizer das coisas doces

E ao lê-las façam-na sentir um tremor nos lábios

 

O tênue canto dos pássaros invadirá os espaços

Depois, virão as crianças correr pelas alamedas

Regenerando o meu incurável e rebelde coração

Para espalhar a voz rouca de minha alma a dizer

Que sua falta vai crescendo a cada dia em mim

 

Aqui largado, para permitir tê-la em meus braços

Penso no abraço que transcenda toda distância

Penso que a roda do tempo fará nosso encontro

Ao som dessa imaginação faço cessar as lágrimas

Pois nesse abraço, sei que ela já faz parte de mim

 

Um comentário: