sexta-feira, novembro 28

Febre

Há noites que me açoita uma febre pelos meandros da tua ausência
Busco detalhes de ti que guardo na memória, entre meu ócio desnudo.
É o meu sangue que se agita pelo coração em festa com tua imagem
Esta ruminante distância se esvai com a solene chegada de tuas coxas
És etérea como as espumas que beijam suavemente a areia e se vão
Imerso no sonho vejo teus seios delicados e igníferos de meu desejo
Em meio a meu transe realizado em plena luz a sorte vem me tatuar
Roubas minha alma num lampejo deixando a tola solidão sepultada
No revoo de ondas desdobradas uma vibração distila em mim renascida

Tua presença ausente é brilho em meio ao todo resto de tédio opaco
Um movimento brota de teus lábios e definitivamente me incandesces
Ah teus lábios, eu os vejo como conchas entreabertas de cetim e pérola
Mesmo tua miragem é seiva viva, é milagre, o fim do pranto, a lucidez.
Mas te quero agora, viva, quente e pronta nesta tarde de primavera.
Porque vives em mim mesmo quando sozinho, no orvalho, sonho por ti.

Incógnitas

Uma aluvião de incógnitas se move destro em minha mente
Fomenta ideias fugazes perpétuas e suas hipóteses à deriva
Pelas voltas de meu cérebro espiritado nestes dias em Virgo
Nas lembranças do remoto cantar azul do pássaro de outrora

Em transe ou transitante como um gravitante bumerangue
Levando meu olhar efêmero às possibilidades do mediato
Abre-se a névoa a suavizar os vértices e suas reverberações
Volto por caminhos que lindam aqueles de remota infância.

Visto a máscara da espera para aguardar os acontecimentos
Sou meu sósia a habitar meu corpo como um acólito da vida
Ou um hóspede trânsfuga bandeado do real para o poema
Precoces conceitos definem os caminhos a serem seguidos

São terríveis as escolhas nestes tempos de desencantamento
A angústia adere às irrespondidas perguntas, ocas e voláteis
Só me restando como mimo ou deleite estes versos sem rima
Para desmistificar os sentimentos ausentes ou inencontráveis

Sei que dei de mim e esse dar encontrou um vazio infecundo
De gente sem fé, de papel sem pauta, de noites sem amantes
Eu ainda canto por dunas desertas pois sonhar é minha sina
Mesmo sabendo, e como sei, que os sonhos são tão voláteis

Inserto num cosmos gris de noctívagas conjecturas dislates
Aguardo o dia, sempre insone, que a resposta chegue clara
Livre dos musgos das aparências e das plumas das alegorias
Simples, leve, alicerçada na verdade, no silêncio e no amor.