sexta-feira, janeiro 8

Suspiros

 Minha querida Helena, guardo tua imagem de um dia há 18 meses

Mal te conhecia de vista, mas eras exatamente assim que imaginei

Hoje és é a palma da mão, mas sempre é como fosse a primeira vez

Renasço e sigo intacto na escuridão, com as minhas asas blindadas

Por ter descoberto o segredo de te amar sempre pela primeira vez

Eu habito as noites selvagens entre nuas veredas da cidade calada

Já faz tempo que retirei meu coração do penhor e já posso usá-lo

Tudo isso me é fascinante, essa imagem oblíqua às janelas de casa

Tu como só tu pudesses ser, até parece não saber que te observo

Da folha entreaberta, que dá entrada a um quarto desconhecido

Diante dela me encanto com a cortina entre o esquadro da janela

Entrevejo uma imagem furtiva d’onde irrompe a sua parte-sombra

Estendendo-se em encantos de jasmim e quanto mais me aproximo

Mais sei que preciso me afastar do abismo e das flores em tumulto

Uma fé febril como que equivocada quando te ausentas faz chorar

Enquanto desejo que meus pássaros selvagens habitem teu corpo

Nestas longas horas a angústia se confundiu um tanto com o sono

Em teus olhos de menina flor me falta razão e salve-se quem puder

Eu farei dissolver-me para permitir que te ame com toda intensidade

Como homem algum tenha amado uma mulher, ser o próprio fogo que

De fogo se fez homem só para poder ter, assim, a liberdade de te amar