segunda-feira, abril 17

Alma gêmea




A alma gêmea provém do infinito e se cumpre antes que se exista
Arquitetada em puro sentimento se cria a face há tanto esperada
Não da contemplação de uma imagem real de sangue e identidade
É uma alma que nasce unida à nossa, numa contingência invisível

Parece ilusória, memória perpetuada que não se reflete no espelho
Mas é sólida qual o mármore que se esculpirá sua forma angelical
Ela vem a ti pelas mãos universo, de quem emana a força geradora
Por inúmeras sombras e signos e não pela cor dos olhos ou da pele

A verás e de imediato brilhará em tua consciência um feixe de luz
Assim conhecerás a percepção da verdade e claridade encher o ar
Estrela da noite profunda, emerge como um inocente pensamento
E te marcará o peito como chaga que não cicatriza e nem o queres

Ela te libertará para ser pássaro a trespassar o espaço com seu voo
E depois de conhecer o horizonte repousar no calor de seu abraço
Sem sacrifício a distinguirás ser fruto da promessa de teus sonhos
Que afasta as trevas pela luz cristalina que é o brilho de seus olhos

Na noite que a chuva reflete luzes no chão com rastro de nostalgia
Uma lágrima fugidia pode saltar, impertinente, meio às lembranças
Se a melancólica trama cinza do outono urdir no frio das ausências
Na distância que os separa, verás que nada supre a falta que ela faz

Deitarás tintas no papel para explicar seu corpo de anjo e serpente
Nem as palavras, versos ou este poema darão a dimensão do seu ser
E se não podes olvidar seu perfume e a sensação de tocar a sua pele
É porque foi tatuada na tua vida, devaneio e fábula, princípio e fim

quinta-feira, abril 13

Desassossego




Nessa tristeza que se alastra, uma linha tênue linda o limite
Que nos insere uma solidão, um abandono, assim inevitável
Sinto que se vão distantes as doces tardes morosas de verão
O frio invade os dias, corações e ruas todos deixados tristes
Nas horas lentas que a noite traz, ébrias de razão e fórmulas
Enfim me torno eu na alma herdando meros e vagos dizeres
Nem o bulício das pessoas andando apressadas me acalanta

Vejo pessoas que aprenderam a viver sós, que mentem amar
Na farsa abstrata se abriga o vazio concreto desse contraste
Não sei como fazer para afastar a amargura em que te firmas
Nem sei mudar os mistérios da álgebra se assim não se quer
Do alto da majestade de meus sonhos, eu guardara teu lugar
Do qual te subtraístes, já não me iludes e nem posso sonhar
No meu coração não há paz nem sossego, apenas resignação

Aqui deste quarto reles, absurdo e anônimo, escrevo versos
As vezes o poema pesa tal como mil páginas de um livro antigo
Teu destino é ser só; meu sonho não te causa outra realidade
Nem estes versos poderão curar-lhe a amargura de tua culpa
A noite traz a sensação remota de vida à essência das coisas
Para compartilhar a graça de ser tudo e um ao mesmo tempo
Mas sei que jamais serás mudada apesar de teu despropósito

Sobe-me da alma à mente uma tristeza e toma todo meu ser
Por saber quanto és indiferente em trilhar um caminho uno
Anteponho palavras como fossem a salvação para a tua sina
Mas isso também te muda nada, é tudo alheio ao teu destino
Ao que escolhes para ter ao lado e não é a mim que escolhes
No final de tua lista há meu nome e enfim sei o que sou a ti
Sou estranho, incógnito, um ninguém, um acaso no caminho

Vivo um tempo que não é meu, um lugar a que não pertenço.