O chão vermelho, de barro, não guarda resquícios do
passado
Mas há estradas que guardam toda a desilusão, todo
martírio
São as quais devemos nos
esquivar, não gravar nossos rastros
Cuidando não cair em abismos alheios que não nos
pertençam
Feche portas e janelas, se os quadros não nos dão
a atmosfera
Dos idílios amorosos
e sem resistir a qualquer traço de pudor
Há vazio no quarto, é só uma intensa
angústia por preencher
A maré o leva longe e conduz essa viagem pelas
ondas do mar
Ainda assim não diga adeus ou apague a chama da
esperança
Não conserve remorsos das águas passadas por seus
moinhos
Pois o que move a vida é o rio interior e não teorias
sombrias
Nem mesmo a profecia notória dentro da garrafa que
flutua
A garrafa vai de encontro ao rochedo e a nua
transparência
Vai ao fundo sem contar com uma mão piedosa que lhe
salve
No céu a brisa desfia as nuvens muito lá acima dos
rochedos
O coração do poeta, amante, visionário, vê a cena de
soslaio
E lhe parece uma sereia, seu corpo nu, recostada
nas pedras
Nada sempre é como parece e é difícil resistir-lhe
ao cântico
Sorver da aguardente como quem saboreia em taças
de ouro
O mundo resumido apenas em néctares divinais, sem agruras
O mundo resumido apenas em néctares divinais, sem agruras
Amar intimamente, mesmo aquilo que pode esconder a
morte
Muito ao longe, onde já não brilham as lâmpadas, o
céu sorri
Retinto de azul pelo luar, derramando estrelas pelo
caminho
Não reprime o ânimo
para recolher os versos dispersos no ar
E, cinicamente, fazê-lo sem receio, tanto do bem como
o mal