Na
lucidez da aurora, a mãe de todos os sonhos e ilusões
Uma chamada ao telefone me afasta da trégua do silêncio
Uma voz suave e quente alegra o poema em lenta gestação
A luz
do abajur revela todo o branco imaculado do papel
E as
palavras saltam ágeis e imponentes à folha sem linhas
Cobra-me
a atenção o relógio morno a serviço
de Morfeu
A hora avança sem rédea nos ponteiros úmidos de
solidão
Mas o
poeta verbaliza na tempestade seu grito de rebeldia
Deixando
na boca um gosto de caramelo de toda
a utopia
Que se
seja possível criar sob as estrelas apagadas lá fora
Encobertas
pelas nuvens que deitam a chuva noite
afora
Elas
não são nuvens de algodão doce nem de carneirinhos
E o que
isso importa, se vamos a cavalgar o golfinho alado
A musa
de belo busto e peito arfante, meigamente
assiste
Suspira
ao ar encolerizado da natureza troando
insistente
O poeta
singra na atmosfera entre as vírgulas
dos trovões
O sentimento,
tal uma entidade, toma a direção da
caneta
Como
que estivesse embriagado pela vontade
de escrever
Pintando
este quadro desnudo pela imaginação do sonhar