terça-feira, outubro 27

O Ser do Poema

 Dentro do pensamento a paisagem noturna se desdobra

E se incorpora no ar, resguardada em ritmos e segredos

Por detrás do poema existe um poder, um ser, o seu eu

A obra objetivada em pele e carne, que sente calor e frio

Tudo brota de um mesmo fermento ou um mesmo invento

Palavras nas quais tropecei, a derrubá-las sobre o papel

Palavras caídas do linguajar que encubro dentro de mim

Assim como as primeiras chuvas, fruto dessa indiferença

Redijo o impossível, escrevo da memória o esquecimento

Escrita continuada subconsciente - volume, corpo e livro

Sem que se tenha o ontem, não há morte e nem há vida

Apenas não sei da essência de que é feita toda a solidão

Na sombra luminosa do silêncio que se revela movimento

Forma nua projetada em seu espelho tornando-se visível

Face ao desejo interior do poeta que é o que a tudo move

E por ele, também, são devorados qual a sombra e o fogo

A alegria do pássaro contaminou o jardim com veemência

Com seu canto áspero que percorre a geometria do verso

segunda-feira, outubro 5

Da beleza

 Todo belo acende um quê de aflição pela certeza do tempo

Que se escoa em sua sucessão implacável que a tudo altera

No futuro vive a angústia da chegada de tempos de solidão

 

Em tempo de desamor, rostos juvenis de harmonias fugazes

Vão se tornarem faces amargas, consumidas em dores frias

Entre signos vazios da ausência, desenhados meio ao peito

 

A esperança é o que nasce, quando dos meandros da noite

Na alegria da beleza, o amor se difunde florescendo em luz

E o espírito se eleva em degraus e ritmos aos olhos atentos

 

Descobre-se então, que provém de amar, o pouso da beleza

No ar que se move pelos páramos e exala perfumes da vida

Só percebidos, em sua verdade, pelos cristais azuis da alma

 

verdades intangíveis aos espelhos e ainda assim verdades