O relógio morno da noite revela suspiros nas alamedas da vida
Estou farto de tantos reveses.
O que ainda há para aprender?
Planto flores, mas só colho gemidos, folhas secas, novas dores
Mas, mea culpa, devo ser eu que faço tudo errado, bem assim
Pode ser que estivesse dentro de mim a tempestade reprimida
O vento encolerizado sacode as
ruas em espanto ao meu redor
As nuvens de algodão deram lugar ao céu de um cinza furioso
As paisagens alegres do campo são estradas lavadas de solidão
Nem sei mais a dimensão de minhas feridas que não cicatrizam
Talvez nem importe, todavia, sinto-me perdido nessa imensidão
Há certos dias de parca
inspiração, que as palavras vêm soltas
Como esmolas, trocados que se vertem ao acaso para o poeta
E o verso soa como corpo sem alma, breve, um ponto sem final
Igual o caminho que se caminha sem ter razão,
ou onde chegar
São dias de colheita magra, de noites sem
luar, flecha sem alvo
O peso do abismo que me impede de voar soa
qual grito ceifado
Que estampa o medo nos olhos de quem nunca
aprendeu sonhar