terça-feira, abril 17

Novos Tempos


Soam as trombetas com que a vida anuncia vindouros esplendores
Do ponto primordial do mundo rumam aos quatro pontos cardeais
Em todos lugares o som se faz ouvir qual fossem harpas do oriente
Eu, principiante de mim mesmo, celebro aprender em pérolas e ouro
Meu corpo pulsa com o anunciar da distinção do real e da realidade
Muitos não se dão conta da chegada de um tempo claro e soberano
De águas cristalinas emanando em abundância de alegoria sem luxo
Não haverá nesta nova existência lugar para negras essências vazias
Nem se verá o contraste da boca persistindo muda e fria na essência
Todos os espaços se preenchem na ação concreta das virtudes da luz
Falar-se-á novo enredo cujo bálsamo é o que provém do seio da terra
Sei que debaixo da quietude a noite pode estender suas negras penas
E que a sombra de um pensamento arde em silêncio rumo ao abismo
Mas não haverá qualquer outro poder na cidade feita dessa nova luz
Que subsistirá, desperto pela ação conjugada do corpo e consciência
Regenerando a mente para o templo real e não para o que lhe convém
As sombras restarão reclusas em sua lógica de ferro na luminosidade
Uma nova geometria se fará traçar para o curso além e fora do tempo
As tristezas do passado serão máscara calada, vulto solitário na terra
Um verdadeiro mestre, sabe-se sempre aprendiz nas grandes decisões


segunda-feira, abril 16

Ao sul do equador



Antigos arreios de medo se atrelam à ilusão de novos dias
De pedaços se faz a tarde que de ausências sopra na brisa
A contar segredos como as águas do rio os revelam às pedras
As nuvens de chuva encobrem as auroras que se perderam
O medo vibra, ainda que se deseje que não faça residência
E o amor se esforça, busca inglório reinventar a esperança
Mas há um quê infeliz, dor insana de estrela que não brilha
Porém a estrada é longa e na solidão alongamos ainda mais
Não há amor, o céu cinza da agonia nos remete ao silêncio
Tantos anseios se esvaem no vazio aflitivo que os consome
As palavras se oxidam na espera, a cada giro dos ponteiros
Como reviver-me se o desejo míngua sem o favor do tempo
Na noite tardia em que a memória é singular companheira
E que todas as minhas idades se refletem nessas memórias
Pertenço ao silêncio dos matizes que agoniam meu coração
Na distância dura e áspera qual um non sense imperdoável
Sou viageiro solitário e cúmplice do silêncio nessa jornada
Em que o amor esse pássaro azul, breve e passageiro, canta
E se move pela paixão como animal noturno meio ao sonho
Para deixar suas marcas, trilha e sombra no pó do caminho
Na encanecida memória da noite e suas estrelas deserdadas
Construo o poema em seu febril pulsar, tão urgente e frágil
Sobre os ombros pesam os minutos a chegar o dia seguinte
Saudade, ave cinza que de-há-anos se aninhou no meu peito
Sob o lume dos castiçais a se refletir nas ruas tristes do cais
As palavras são a voz escondida nos territórios da alvorada
Que, avidamente, se almeja alfombras mais leves para a alma
O banco de praia vazio, insciente dos transeuntes distraídos
Inda exala o perfume que se perdeu em uma tarde qualquer
O vento de abril anuncia o outono chegar ao sul do equador