quarta-feira, junho 27

Fosse eu rei


Fosse eu rei, há palavras, aquelas desertas, quiçá eu escolheria não as ouvir
E se fingisse não ouvir, ainda fingiria não escrever neste teatro tresloucado
Então, nesse meu mundo imaginário, tudo seria arranjado qual me convém
Onde a poesia se faz de palavras revoltas, letras soltas no suspiro do vento
Onde o coração bate célere qual as asas do pássaro a baterem rumo ao céu
Seria eu artífice do destino, trasladando a vida meio às flores sem espinhos
Iria sacudir o brilho das estrelas só para te abraçar qual a noite abraça o céu
Para nunca mais te perderes e guardares o caminho através de meus olhos
Para jamais tocarem óperas com o que há de triste e sórdido na humanidade
Deixar-te-ia correr leve na minha vida, com cautela para não me machucar
Far-te-ia correr livre pela minha boca, com atenção para não te machucar
Esperar-te-ia, nos veios do tempo, com cuidado para ninguém se machucar
Hoje eu viria celebrar o absoluto, aquilo que desdobra e toca os contrários
Para ter muito mais que um monte de memórias que só faz verter lágrimas
Pontes em lugar de muros, sorrisos em vez de silêncios, vida e não refúgio
Se eu fosse rei, artífice do destino no mundo imaginário qual o real é agora
Não haveria distância nem lado de lá, o blues apenas uma cor não uma dor
Hoje meus poemas não dizem palavras doces, são um bilhete que é só de ida
Ser ou não ser é uma definição frívola, considerado que o existir é efêmero
E a poesia uma pétala esculpida na poeira dos caminhos incertos dessa vida
Severo, o tempo nem dos gritos no silêncio, nem dos sussurros se lembrará