quinta-feira, fevereiro 18

Relicário





Como me ouvirás a voz se aquiesceres que as estrelas fujam entre nuvens
Se na calada da tarde deixares que inutilidades assumam o lugar do amor
Se o ciúme que incendeia a dor, oxidar a esperança, germinar as ausências
O que imaginas, te decretando que desertes de nós, se só tu é que me tens

Se acho força para renascer a cada aurora eu o faço por esperar teus beijos
Então porque imaginas que vivo tudo aquilo que já releguei ao esquecimento
Onde pensas encontro alento a cada despedida de tua necessária presença
Senão na lembrança de tua luz diamante que é a matéria essencial da vida

Não abandones ao vento avaro da suspeita as flores que estão à tua espera
Por ti despertei do sono e me atrevi reabrir janelas para os riscos do amor
Consenti que uma insuspeita pulsação revelasse esse sentimento contido
Para anos depois de morto, suspirar novamente vivo, para cavalgar o zefir

Não permitas que o gris interminável retome os céus com seus fantasmas
Nada existe do outro lado de nosso amor, senão ácidos tempos acabados
Não te vês nestes singelos versos que são a resistência ao silêncio diário
Que o passado restou apenas no passado e que és a única luz que emerge

Não te dás conta que estando juntos somos a melhor definição do eterno
Que as esperas que temos que nos submeter não podem ser de desespero
Mas são o prólogo de novo capítulo, onde tudo além de nós é anonimato
Tal qual o vinho que delibamos a preceder infindáveis estações sublimes

Percebas que a fome de ti me preenche os poros e me cantes uma canção
À luz de vela toma-me, entrega-te, liberta teus desejos mais impróprios
Cultiva gemidos entre lençóis e te olvides de tudo mais, afora setembro
Escrevo somente por ti, e o faço com pedaços de mim, a cada entardecer