quinta-feira, janeiro 17

Poema



Gostaria tanto de te pedir aquilo que não posso
Aquilo a que não tenho direito
E que me aflige em horas várias
De matinais a noturnas
De calmaria e de tempestade
De sono e de vigília
De chuva que cai na janela
E de lua que ilumina os montes ao meu redor

Como me é impossível saciar essa vontade
De ser algo mais que uma doce memória diária
Que desaparece em meio ao labor
E a rotina de teu dia
Em meio a tuas paixões diárias
Que me roem por dentro
Em gritos que não devem ser expressados
Senão nestes versos sufocados
Me tornando como o éter que se esvai
Mas deixa no ar seu rastro de aroma
Que entorpece os sentidos

Assim como única solução
Deixo-me cair no profundo sono
Pois aí
No meio de meus sonhos,
Não me negas nada que eu deseje ou precise
E que um dia a vida me tomou
E continua me tomando
Devido ao fato de que a ampulheta do tempo
Virando e revirando
Faz pagar a todos que a subestimam

Me resta a chuva na janela
Com sua simplicidade
Que não cobra nada de nenhum amor
Esvaído pelo vento
Que corre pelos trigais
Outrora dourados
E agora ceifados.


                                     Por  Lana Lange

Meu Barco



Venha meu amor
E mergulhe no azul celeste deste meu olhar terno
do mar azul de meu eterno acolhimento
que se abre calmamente
num abraço amoroso e tépido
como a corrente marinha quente de leste
que aquece seres encantados
vivendo sob o manto líquido e salgado
azul-nacarado
pelo sol que brinca
de fugir e se esconder no horizonte
qual criança rindo alto de brincadeira travessa

Meu hálito,
qual vento norte que sopra morno,
levará calor e sonhos
até as rochas mais escuras
povoadas de seres obscuros
que vivem na constante noite gris
confinados em gretas negras de musgo.
 
No calor deste,
Meus beijos em seus lábios
Derretem o frio do mais gélido vento sul
Capturam teus desejos escondidos em cada poro da tua pele,
mesmo aqueles que o sol ofuscou
E riu de me enganar
Escondendo-os no reflexo da água calma à nossa frente

Meus cabelos reluzindo o sol sobre a ondulação da água
Voarão livres acariciando a tua pele
feita em nuvens dos sonhos macios
outrora densas de chuva e pesadelos
que são agora levados pelos meus cavalos alados
para onde as sombras são convertidas
em pássaros entoam melodias angelicais ao nosso redor 

Meu abraço na aurora vermelha que inunda o mar,
Sana todas as dores da tua alma
Traz o perfume do jasmim,
Misturado ao ébrio do almíscar
E a doçura das rosas,

No meu barco terás o pó das estrelas cintilantes
Que enche o mundo de fadinhas
Qual vaga-lumes em noite escura da alma
Com brilho e alegria
Onde todo o medo é afastado
Por uma imensa lua cheia prateada
Que brinca de tocar a água
iluminando pontos perolados
Nos olhos dos amantes.

No meu abraço te envolverei
E te acalentarei a alma
Com melodias serenas
E beijos delicados
Qual canções de ninar
Velando o sono
Ao rebento pequenino

Uso as vestes da luz, da vida e da poesia
Pois é assim que desejo aparecer sempre em seus sonhos
Em seu pensamento
Qual brisa no fulgor do verão
Qual lareira crepitando no inverno
Qual ópio para as dores

Saiba, que seu coração
Está para sempre protegido
Na concha de minhas mãos.


                                Escrito por Lana Lange

Distância




Foram numerosos silêncios tão crus quanto ásperos
Uma fome insaciada, uma névoa de muito desalento
Mãos distantes a se buscar ébrias em meio ao sonho
Foram tempos de um nó insano a arder na garganta
Foi o frio da vida seguindo numa angústia sem saída
Foi a dor da perda num reencontro de cartão postal
Tal a dor que dói à terra a flor que se lhe desenraiza
Onde restam cicatrizes que nem o tempo vai apagar

Mas a mão do destino esconde segredos em silêncio
Mantém em si todas razões que a razão desconhece
Com esmero de reduzir a nada todas as construções
no que seja improvável; Romper as impossibilidades
de tudo aquilo que se pudesse nomear de impossível
No ventre que gera a vida está o germe da renovação
Para se fazer tempo de reencontro, de reaproximação
Acalmar as dores, angústias, dúvidas e hipertensões

Enfim uma flor se desabrocha, é a vida reeditando-se
Nos portais do espaço e tempo semeamos esperança
Para reaprender que distância é apenas uma ficção
Chegas no sonho, mas és corpo, és carne e realidade
Cada vez que nossas almas se encontram no infinito
As memórias de vida se refazem na energia ancestral
O nosso tempo já não é como nos relógios sonolentos
Não haverá monumentos ou heranças de nosso viver

Devo falar do que há muito tenho guardado em mim
Já devia ter te dito: dá-me a tua mão e fecha os olhos
Aconchega tua cabeça sobre meu peito neste abraço
Sem imaginar se é possível ou distante, sem projetos
Apenas fica. Seja para sempre ou apenas um instante
Mas que tenha a duração da eternidade dos amantes
Sempre me pertencerás na minha ilusão de nós dois
O existir não tem sentido senão aquele que criamos