domingo, julho 30

Vírgula



Há vezes que sento-me na solidão ilusória do aconchego desta cadeira
E como hábito, um rito, um clamor ao qual não sei negar, me adjudico
Para ir buscar nas entranhas dores que já vi, que já ouvi ou que já vivi
Letras quais semeadas brotem lágrimas que sejam gênese deste poema
Em um canto de lamúria muda, o que revelo esconde a pessoa que sou
Onde caiu a vírgula, majestosa, tudo transforma e assim te conquistar
Definindo minha presença na tua vida, dentre os desejos mais solenes
Outros tão íntimos, em forma de poesia derramada pálida neste papel
Quem sabe desejos eletrificados, não importando se é amor ou paixão
Os sonhos que não se pode ler, ora que se ocultam, venhas despontar
Meus olhos já vislumbraram o irreal por trás de saudades petrificadas
Basta dessas horas mastigadas a instigar a agonia que não se esqueceu
Cessem os conceitos ou postulados obsoletos para controlar o querer
E do reproche nos caminhos pré-traçados e coreografias tão corretas
Busco a delicadeza na fúria, o trovão no sopro e um abraço infindável
Quero desconfigurar o mundo, sem medos cotidianos ou unhas roídas
Um só minuto e ir de encontro ao que sinto sem enganar meu coração
E ainda que não haja mais dor a ser sentida, ainda transpirem emoções
Na página virada rumo a amanhã, sentir teu cheiro em forma de poesia

terça-feira, julho 4

Poema





No chão de madeira corrida que reflete o calor das luzes de outrora  
Busco a minha identidade, busco a imagem que me possa descrever
Agora que o inverno já derruba as folhas avermelhadas pelo outono

O verde das colinas reside em tão só embargada e distante memória
No passado recente ficou um som desagradável, música malsonante
A tocar acre no meu ouvido e no suor que transpira pela minha pele

Meu pensamento traz recordações assíduas de abandono e silêncio
Dias ocos, repletos de partidas, de olhos sem brilho, de mãos vazias
Mas o que passou é passado e o mundo é uma campina sem limites

Eu que sou feito de anjos e demônios, pronto a me doar ao universo
Tenho o medo impregnado em mim e nas veias a loucura de desafiá-lo
Minha vida transborda insanidade, intensidade, tragédias e comédias

Cada detalhe é a verdade ou uma mentira sincera, um jardim florido
Derreto-me ao doce som do aplauso, sou o mendigo entre tantos reis
Nada em mim será real se não existir de fato em mim, sou dia de sol

Em mim o feio tem sua beleza, o amarelo tem seu tanto de vermelho
Caminho à beira das casas, de paredes caiadas e das janelas cerradas
Meus lobos correm livres nas planícies, meus trigais da adolescência

Sou menino-homem construído para enfeitiçar, sou mil e sou nenhum
Eu creio no impossível e na minha pele ardem chagas vivas de paixão
Sou o invite das nuvens cinzas à chuva para misturar-se às lágrimas

Vim para encantar ou aborrecer, tenho asas e fogo, tenho dor e amor
Estou no trilar dos pássaros, na tua voz quente e mansa a me chamar
Meu nome é Poema, moro na estrada do amor, onde o olhar alcançar