quinta-feira, janeiro 30

Nova vida


Teus olhos vestiram em minha alma um novo horizonte
E toda angústia se fez música como som de um violino
Tuas mãos abertas me fizeram rescrever outra aurora
Por campos verdejantes fiz o caminho em tua direção
Os teus cabelos dourados imagem do sol que desponta
Despertou meu coração de guerreiro no peito escravo
Ouço, de tua boca rosada, tudo que um dia quis ouvir
Ensinando-me como renascer, vivo, a cada entardecer
Em ti, mesmo em silêncio, ressoa um grito de liberdade
Porque ainda que na distância, a solidão não faz ninho
Teu corpo, flor de sonhos, é feito de infinitos clarões
Reinventado para mim e liberto dos grilhões do tempo
Teu sorriso expande a luz, inolvidável nestas horas vãs
Foram tantos crepúsculos insones, não nego seus sinais
 E as dores as vejo através das vidraças, no chão do dia
Mas depois de ti, já não há mais chagas, a vida se refaz
Conforme as predileções que o destino queira permitir
Porque agora sou só esperança e realização, nova vida

Estás sempre tão presente, é tão sólido e real o teu ser
Nas noites que todo esse amor corre por nossos corpos

Todo amor é dor


Todo amor é dor quando bate à porta a ausência
É uma precipitação aguda, são corais extraviados
É a dor desse amor que chega tal qual a preamar
Que devolve à praia o que o mar não deseja mais
É uma sensação de estar-se perdido, sem o norte
Decretado pelo cru mistério cinzento da solidão

Um caminho sem destino, que não termina nunca
No chão anônimo, de tantas pedras e desenganos
Nos desvãos da alma, a angústia acende o alerta
De uma dor súbita no peito, feito silêncio ou ira
Resta, no copo, a bebida com álcool, soda e gelo
Na qual refazemos toda a esperança do possível

Enquanto a noite avança desprovida de estrelas
Lavarei toda dor de tua falta no sol do novo dia
Pois me permitirei chorar somente mais uma vez
Depois é abrir as asas, escrever teu nome no céu
Cavalgar os ventos, olhar acima e domar os raios
Para dizer nunca, jamais, aos céus gris da agonia

Mesmo que haja a névoa ou um oceano entre nós
Teu nome encabeça, em luz, cada folha de poema

Lentamente


Onde estarão agora teus doces olhos que não a me olhar
Sinto o coração apertado, teu brilho de estrela distante
Um enorme deserto, pois é assim que é quando não estás
É como a imensidão de um oceano só do vazio que causa
Peço à brisa que me traga no pensamento um aconchego
A esta alma que caminha solitária pelas ruas da nostalgia
Os minutos, ora tão lentos, açoitam minha nua paciência
Que se angustia por querer tão rápidos como sonho bom
Mas é nos sonhos que te reencontro e és minha de novo
Caminhamos de mãos dadas pelas falésias à beira do mar
Deitamos na relva a mirar as estrelas cadentes, distraídos
Fazemos nossas pegadas na areia onde a maré já recolheu
Assistimos os últimos raios de sol avermelhar o horizonte
Ao nascer do dia, a realidade reclama seu lugar, e então
Vejo o céu se cobrir de nuvens, o sol brilhando sem calor
Até os pássaros emudecidos já não cantam no amanhecer
Tudo transcorre tão lento na eternidade da tua ausência
Ando e respiro contando quando te ver e voltar a sorrir