sexta-feira, abril 24

O salto


Um dia vesti-me de emoção e saí pelo negrume do asfalto noturno
Segui de pés descalços lançando meus pregões com a voz cansada
Hoje o silêncio denota a falta dos carros nestes tempos estranhos
Já não ouço o canto distante, as histórias se descortinam céleres
Nem os colibris e as borboletas contam das folhas outonais caídas
Não tenho palavras grandiosas, nem de efeito na manga do paletó
Mas só assim que me sinto liberto para dizer que tens meu coração
Não vim aqui para ser um momento, mas por uma vida, nossa vida
E persistirei ao teu lado mesmo quando nada mais te fizer sentido
Descobrirei o enigma e seguirei o vento que sopra entre as árvores
Lembrarei dos sons entre paredes, os sorrisos antes do amanhecer
Hoje a escolha é navegar na mansidão dos teus olhos que me fitam
Enquanto não chega o momento de pousar os meus lábios nos teus
Tão doces qual o mel, eu desenharei um poema com cheiro de flor
Para fantasiar teus sonhos e desmanchar teus cabelos, te arrepiar
Para te fazer sorrir, que sejas minha estrela, o paraíso nesta terra
Entre as linhas deste estranho poema, vive o desejo que entendas
Que abri meu coração para entrares e saltei nos limites da emoção
Quando se ama, sempre, ainda que não se queira, se perde a razão

quarta-feira, abril 22

Castiço




O poeta é um artesão de anseios, a buscar dos sentidos para vida
É o artífice buscando construir histórias do imo dos sentimentos
Que não se me permita usar das palavras para minha conveniência
Que o verso nasça do verbo vivo, espelhando a emoção mais pura
Que não me seja usado, manejar as estrofes para agradar opiniões

E quando falar das dores, não lhe atribua quem as tenha causado
Pois se a luta pela vida engrandece, criticar impregna de escuridão
Que o floreio das frases, não usurpe a obrigação de falar verdade
Ainda que a verdade de folhas reais tenha suas raízes na fantasia
Mesmo que não esteja no lugar comum que todos a esperam estar

Que não se me permita engrandecer-me por ser íntimo do castiço
Nem com ele ser displicente para não afrontar os mais suscetíveis
A recompensa deve vir da alma, dos suspiros mais sinceros do leitor
Pois sendo real o poema não vem da opinião alheia, mas de teu dom
Da capacidade de tratar dores e amores como iguais, gentilmente

Então escreve poeta, desenha no papel os sentimentos qual letras
Porque quem te critica, não sabe fazer ou queria fazê-lo como tu