sábado, agosto 31

Desejo


Quero muito em breve olhar nos teus olhos e te contar
O quanto és necessária nestas tardes frias de sol pálido
Em que a solidão se reflete por todos cantos do quarto
Que és o sal quando vem o silêncio e me salvas a palavra

Quero te contar que meu peito se incendeia pela tua voz
Quando me dizes, perto de um sussurro, para eu te amar
Desejo que saibas que és tão mais do que eu pronuncio
Nestes versos que, diante de ti, são nada qual leve brisa

Quero ainda te dizer que tu és a minha verdadeira poesia
Minha música num arranjo quase celestial de sons e cores
Que contigo sou a ave que revoa em espiral a beirar o céu
E de lá, asas abertas, mergulha na direção de teus braços

Quero te dizer da importância de ter teus olhos nos meus
De acordar madrugada adentro só para velar por teu sono
Que vejo no fulgor que acolhe em brasa todo meu desejo
Entre lençóis, sob a noite, nosso coração em pleno verão

Quero que contar das violetas que brilham ao amanhecer
E se não vens é tudo cinza e o dia é só poema interminado
Dizer que quebrastes meu abandono e o sonho hoje é vivo
Para que renuncies a todo medo e reveles teu amor contido

Quando aceitarás que sou teu? Amigo, amante, escravo, homem
Que depois de morto me fizeste renascer, criança face a vida!

domingo, agosto 25

Interminável


Paira-me uma sombra insidiosa no peito quando és ausência
Na sala vazia ressoa o retrato de uma noite feliz que se foi
Não consigo negar certa tristeza a desfocar os meus olhos
Pois que vem da minh’alma um clamor que te anseia comigo
Talvez eu queira demais de ti nesta paixão que é crescente
Porque a parede dos anos não me roubou o desejo de amar
Pode ser que ainda não vivas em ti a mesma porção do sonho
Talvez esteja difícil crer que conquistei pessoa tão especial
Mas preciso abandonar estas ideias com cheiro de abandono
Aguardando que meu fogo, logo possa também incendiar-te
Dispo-me destes pensamentos de angústia nesta espera de ti
Para recordar que abalamos a cidade com nosso sentimento
E é preciso uma busca do vocábulo correto nesta descrição
Então, imagino tuas unhas riscando teu nome na minha pele
E o que poderia ser dor, era só prazer de estar dentro de ti
Para admirar secretamente tua geografia de montes e vales
A trocar beijos sem limite e a alma de asa aberta, alçar voo
Deixo-me antever, por fim, deitando a cabeça em teu peito
E os pecados de nós dois expostos numa troca interminável
Permito-me sentir a memória de tua pele nesse abraço final
Para reviver tal sensação dos tempos impensados do poema


quarta-feira, agosto 21

Inquietação


Como por uma fenda no tempo venho olhar aos dias futuros
E confesso não tenho medo de dizer que entendo o que vejo
Vejo uma esperança de flores que o sopro do inverno não viu
Vejo meus passos vingando os caminhos que me separam de ti
Ando por planícies reverdecidas colhendo os frutos dos dias
Faço um brinde à solidão que já se esvanece até desaparecer
Digo adeus às opacidades do silêncio com a voz que não cala
Taças vazias, gestos vãos, perfumes erradios lhes digo jamais
Risadas francas, bocas desenhadas, abraços infindos digo olá
Ainda revivo a noite que estas mãos trêmulas buscam as suas
Quando penso haver dito tudo, vejo que eu disse quase nada
Dessas conversas intermináveis que atravessam a madrugada
Das noites de um só entreabrir de olhos, sonhos evanescentes
E o feiticeiro risca o curso da jornada que culmina no abraço
Sob um céu intransigível de fulgores e de estrelas incansáveis
Faço um pedido à estrela cadente e até teus olhos me sorriem
Por fim, deito-me feliz por acreditar no fim destas tormentas
Esperando que amanhã verei ao acordar teu rosto a me sorrir