terça-feira, outubro 4

Tempos Acelerados



São tantos os caminhos mas poucas as escolhas
Pois o reino do oblívio já soprou adentro de nós
Para nos conduzir ao árduo ofício de ser normal
E recitar este canto tão amargo quão sem brilho

Onde poderei encontrar a meninice de outrora
Se a vida refoge fugaz entre a brisa das manhãs
Se de cinza tinge o azul das tardes emudecidas
Que se quedam caladas no umbral do cotidiano

Velha infância, restou de ti apenas as memórias
Já desfolhadas muitas páginas desse calendário
Cada dia mais acelerado neste ganhar e perder
O mundo é pequeno, termina bem ali na esquina

Pela estrada, bem além dos amores não amados
Até o silêncio morre neste cenário de ausências
De deserto em deserto longe do vinho e do riso
O caminho de volta se disfarça nas entrelinhas

Pedaços esquecidos de mim se refazem em verso
Num suspiro súbito um ruflar de asas amanhece
É o poema que acolhe em si o arcano e o enigma
Para guardar em segredo a luz, a cor e a estrela.