terça-feira, janeiro 29

Gesto




O gesto primeiro do poeta é sua rebeldia, o fruto proibido
E também sua musa primeva, azul, oculta ao pé do oráculo
Diz sussurros aos espíritos que pactuam estes dias amargos
Neste cenário celestial liberto este canto ao qual me atiro
Como o pássaro se atira no vazio, ousadia que lhe dá o voo
Deste gesto nasce o verso qual do caos nasceu o céu e a terra

Tu que a tudo observas de teu empíreo trono, hoje te invoco
Como poderei remir esse pecado num coração singelo e justo
Elevar-me sobre a vastidão dos abismos profundos do inferno
Galgar os topos das montanhas e lá dissipar toda essa solidão
Instrui-me a abrir asas intensas, livres das minhas fraquezas
Dize-me onde encontro o ímpeto para fugir a vãs seduções
Que as dissolva sem ruído, tempestades, sem ais ou lágrimas

Ah, o poema e os elementos em que ele consiste, tudo expõe
E a alma poeta se perfaz só de anseios e segue a duras penas
Transformando as ausências que viveu, em afeições no futuro
Buscando encontrar uma inocência, justificar os rompimentos
Algo que nem sabe ao certo como pode ser feito, apenas o faz
E não tem medo de amar. Vai doer, e se dói, é porque importa

O viver é algo circular, ao fim é que se encontra o recomeço