O gesto primeiro do poeta é sua
rebeldia, o fruto proibido
E também sua musa primeva,
azul, oculta ao pé do oráculo
Diz
sussurros aos espíritos que pactuam estes dias amargos
Neste cenário celestial liberto
este canto ao qual me atiro
Como o pássaro se atira no
vazio, ousadia que lhe dá o voo
Deste gesto
nasce o verso qual do caos nasceu o céu e a terra
Tu que a tudo
observas de teu empíreo trono, hoje te invoco
Como
poderei remir esse pecado num coração singelo e justo
Elevar-me
sobre a vastidão dos abismos profundos do inferno
Galgar os
topos das montanhas e lá dissipar toda essa solidão
Instrui-me a abrir asas intensas, livres das minhas
fraquezas
Dize-me onde encontro o ímpeto
para fugir a vãs seduções
Que as
dissolva sem ruído, tempestades, sem ais ou lágrimas
Ah, o
poema e os elementos em que ele consiste, tudo expõe
E a alma poeta se perfaz só de anseios
e segue a duras penas
Transformando
as ausências que viveu, em afeições no futuro
Buscando
encontrar uma inocência, justificar os rompimentos
Algo que
nem sabe ao certo como pode ser feito, apenas o faz
E não tem
medo de amar. Vai doer, e se dói, é porque importa
O viver é algo circular, ao fim é que se encontra o
recomeço