segunda-feira, junho 21

Os poetas não morrem

 Os poetas não morrem jamais pois que a poesia os eterniza

Em sua luz fundam uma linha de esperança, mesmo áspera

Como ásperos são os caminhos do rio entre tantas pedras

Pedras entre as quais a água desliza livremente como seda

E preenche todas frestas como a palavra preenche a noite

Numa voz lúcida que não se sabe vem da alma ou do corpo

Mas é a brisa fresca que socorre o coração meio ao verão

Quando a vida nos queda solos o poema é o beijo da amada

Vem na madrugada chuvosa sob o céu sem vento e estrelas

Que a rua brilha a refletir as lâmpadas lá fora das vidraças

O poema é alento, o copo meio cheio, o perfume de flores

Além dessa densa fumaça metálica dos carros transeuntes

Que desfaz a melancolia e o esquecimento do mar interior

O som desse barco a navegar o mundo no azul das manhãs

Vencendo a tantas intempéries tristes qual o gris do sono

O poema é o grito dos mutilados, a nossa dor mais anônima

Que reinventa nosso alimento acima e adiante da angústia

O fluir do tempo invade o existir nas suas pétalas de horas

Entre sentimentos esfarelados e os fantasmas subjugados

Os poetas não morrem quando durar o clamor de escrever

Que, louco, vive nos subúrbios de nós, sob o calor da vida