domingo, novembro 22

Partida



Sinto-me tão só e não sei bem porque tu fostes
Dói-me o coração e meus sentidos estão aflitos
Uma letargia toma conta de mim como veneno
Tombei vencido diante de minha maior batalha
Fiquei exposto ao inimigo ao pedir-lhe a mercê
E minha luz de viver foi levada a outros confins

Sinto-me tão só é porque sei que não percebes
Que não posso encontrar a saída desta floresta
Por que ainda é escuro e minha alma é criança
Perdida entre as folhas do que nunca sentistes
Estás tão longe e dói saber que não posso voar
Longe. E só restam as asas invisíveis da poesia

Sinto-me tão só e todos lugares são de lágrimas
Onde quer que eu vá teu lugar vazio me sufoca
Somos duas peças vizinhas deste quebra cabeça
Que a vida nos propôs: vencer velhos fantasmas
Que agora me assombram terríveis como nunca
Me roubando o ar, tornando cinza onde eu olhe

Sinto-me tão só e não sei bem porque tu fostes
Disseste tão de repente não consegui assimilar
E a música parou de tocar, não cheguei ao final
Há muitos amanhãs até poder rever teu abraço
De tantas tintas, o quadro da minha existência
Continua, sem tuas cores num canto, inacabado

terça-feira, novembro 10

Cadê você?



Quando acordo e constato
Que não estás aqui
Meus olhos transbordam
Essa certeza líquida.
Tenho fome de ti,
Tenho sede de ti,
Tenho dor sem ti,
O coração, ah esse insensato,
Só ele sabe e te escuta
A voz mesmo quando não te vê.
Sorte! Assim não te ausentas
Das vibrações dos meus dias.
Tua energia me corre nas veias
Recordando a cada instante
Como é bom teu carinho
Quente teu abraço
Molhado teu beijo.
Onde quer estejamos juntos
Está cheio de flores.
E como têm perfume!
Disse tudo e ainda quase nada
Já disse tanto que te amo
Pequena palavra, mas
Não cabe no céu sua verdade.
Eu a salvo no papel em letras
Que quando as lês
Sinto teus olhos brilhar.
Riscarei o verbo partir
Do meu dicionário.
E tu, meu amor, não te vás
Jamais, porque...
Minha alma fez ninho em ti.

Downhill



Nas trilhas que percorro
Vozes exalam do arvoredo.
Onde fervilham seres ocultos.
Minhas rodas entre as raízes
Mostram fome do imprevisível
A câmera capta fulgurações, contornos,
Saltos e no ângulo extremo
O passar de troncos tresloucados
Aqui em baixo, no caminho
Parecemos astronautas
A aparência que é aceita
Sem quês ou porquês
A vida se reinstala a cada descida
Riscamos no chão de terra
O traçado que escolhemos.
O barro nos pneus é troféu
E a montanha nos sussurra a voltar
Não são todos que escutam
Volto pois sinto o chamado
De descer cada vez mais rápido
Saltar cada vez mais alto e
Curvar cada vez mais fechado
Assim me tenho de volta à meninice
As marcas nas canelas
São medalhas a dizer: 
Sim, estou vivo.