A lua desliza suavemente
descrevendo seu arco no véu da noite
Olho a imaginar o que haveria no
lado em permanente penumbra
Um mar de respostas incipientes
jorra pelas janelas entreabertas
O ser que herda o inferno também
herda coragem no seu âmago
É um sentimento complexo que
diz sobre ter sonhos inacabados
Cheios do mistério que se multiplica
nas noites estéreis de sono
Impregnadas de lamentos. Qual
resposta que o sonho contempla
Quando se amanhece com uma
sensação de aconchego e alegria
Ou quando o dia aporta no grito
ferido de angústia na garganta
Pouco arranjamos saber sobre as
verdades da psiquê sonhadora
Ressoa a
dúvida se a vida poderia ter-nos doado
mais de ternura
A ternura que havia nos acenos
de alguém que se afastou cedo
Que partiu tão definitiva
levando as alegrias e deixando a culpa
Que o tempo inexorável não
amenizou e ora, ao invés, só fustiga
A tarde cai, ao brilho carmesim
do sol, fluindo a luz da verdade
Invade e cora nosso rosto por
nossos sentimentos insuficientes
Que nos consomem e ruem se
estagnamos os desejos para saber
As razões
porque o amor se move de inopino ao som dos poemas
No banco da praça, sob o
arvoredo, olvido de algo arrependido
Algo que a memória trai, sob
uma tarja da luz do luar, contudo
Eivado de dor e espanto ouvindo
ao longe a rugir a tempestade
E o céu se esconde sob uma aura triste diante do pesado fardo
Enquanto a chuva salpica as folhas do salgueiro, pelas
veredas
Vem no peito uma sensação de que devia ter criado mais raízes
Vem no peito uma sensação de que devia ter criado mais raízes
Quando
ainda cria que uma nova emoção perdida ser-me-ia
fatal
Agora o
tempo já vai avançado nesta jornada e refuto a piedade
Levo eu
mesmo minhas cicatrizes, seja para o bem ou para o mal
Meu
orgulho não aceita a compaixão e sorverei do fel que me é
servido sem
sequer questionar os ensejos indeléveis do destino.