Há
dias que sou como a chuva que, lentamente, cai das sombras da noite
Há outros dias em que sou a sombra
profunda e disfarçada de normalidade
Algumas
vezes me encubro de melancolia nos dias perdidos no calendário
Sob
o pio das corujas a aconselhar com vigor àquilo que elas não o fazem
Caminho
entre almas atormentadas que se movem sem destino nas veredas
Com
seus guarda-chuvas que se fundem na escuridão que cobre o mundo
O mistério se insinua nas praças, em negras gotas que escorrem pelas
faces
As borboletas ébrias fazem seu balé vivaz, sob o brilho translúcido do luar
Há dias que sou o enigma insolvido pela razão, pois a
resposta está no coração
Há outros dias que sou a confiança escancarada de que o novo sempre virá
Algumas vezes me sinto predestinado
a realizar a felicidade, outras sou tristeza
Entre o canto das cigarras que anunciam
o verão, mas morrem sem
vê-lo chegar
O
silêncio é entrecortado por sons remotos que ecoam nas esquinas vazias
É a
vida que há, oculta no ar noturno a contar
suas histórias e seus contos
Para
quem os ouvir, conheça os milhares de encantamentos sutis de magia
Para
que desvende as ideias complexas construídas nas mentes incrédulas
Há dias que sou o caminho rude que se deve percorrer para chegar às
flores
Há outros dias que sou o perfume que nenhuma flor teve, se espalhando no
ar
Algumas vezes me vejo em
dúvida, em meio a tantas certezas sou
apenas sonho
Diante dos versos que vêm sussurrados a lápis ou enlouquecidos em nanquim
O desconhecido
está em cada detalhe não percebido
pelos olhos do incauto
Na
terra, a noite verte prateada luminosa inserindo-se
nas luzes da cidade
Da janela vista de fora, uma luz pálida vaza pela cortina, será a calma
ou a ira?
No
final é tudo anarquia e o poema é a ponte tortuosa entre pensamentos
Quando durmo, dou-me a permitir sonhos doces, alados e incontidos, neles
deito
um beijo em tua fronte, afago tua alma e, em silêncio, regresso pra dentro
de mim