quarta-feira, maio 31

Transições



No perene trânsito do mundo muitas vezes nos calamos
Cala-nos nossa alma, nos encolhemos diante dos pesares
A pesares quais dores sejam mais vulgares que o silêncio
O senso que nos atrelou à essa coisa fria que diz ser vida
Servida de qualquer jeito tal que nos privando de cantar
A decantar as palavras em exílio, ideias nuas de verdades
De nulidades que seria de perguntar a qual fim serve isso
Sem viço e sem brilho, só angústia e vazio atrás da porta
Que transporta a outras deidades a culpa dessas decisões
De cisões e afastamentos, que nos rapta sutil desse amor

O carinho que olvidamos de dizer é a dor que transborda
Traz na borda o espinho na garganta que cala esta elegia
Esta alegria roubada, uma saudade frígia breve e concisa
No cinza dos dias que revolveu o horizonte em encantos
Em cantos solitários, versos glaciais que jamais lhe dirias
Nem medirias o quanto tudo isso te fez outra e diferente
Que de frente a muitas questões há tão poucas respostas
Repostas nas lembranças esmaecidas de minha realidade
Da real idade que jamais notei enquanto o tempo seguia
Pois se guia a vida por sua intensidade e não pelo relógio

O verso cala o silêncio, desnuda a vida, acende o coração
A leres o poema não o vejas em mim, toma a ti e te sirvas

quarta-feira, maio 17

Noturno 6.1




Na noite que brilha as estrelas, imprimo o verso em folhas secas
Sento-me à sombra de dez mil segredos que o vento lírico almeja
Em horas tranquilas afogadas no esquecimento acetinado e azul
Tenho sede do vinho que refresca a mente e que realça as ilusões

Eu muito andei pelas veredas da vida, vezes contra a correnteza
Uma noite no limbo de um beijo apressado sob os ventos do sul
Outra a repousar em um colo sereno ao fim da longa caminhada
Sei que tudo muda no fio do tempo e se incorpora noutro espaço

O amor pode vir do pecado, penetrante como lâmina de frio aço
E tudo desaba retumbante em pedaços na primeva luz da manhã
Mas pode vir do coração na resposta contundente a toda dúvida
Que sempre insiste em atear chama à vela e põe fim ao labirinto

Quem aspira ao amor, que não se cegue, deve saber que há a cruz
Leda, levianamente, pois a vida não corre só ao som dos violinos
Sempre chega a hora da partida e o silêncio preenche os espaços
Haverá que se perdoar fatos havidos nos idos dias tempestuosos

Amar é ter o fogo que nasce depois dos pontos finais das ilusões
Quantos passos já caminhei em espaços ausentes dessa presença
Quantas auroras incipientes, quantas noites estéreis e solitárias
Receei um dia a mágoa fosse escrever um poema frio e sem rosto

Mas urge se reinventar para habitar o corpo amado com ternura
Deixar as incertezas se perderem na distância, meio à névoa fria
Celebrar o segredo contido nos suspiros da respiração apertada
E ser uno, íntegro e intenso, para a emoção irromper em mil cores

Se o amor é dor, mais é luz, lembre-se nem toda flor tem espinho