quarta-feira, novembro 27

A lenda


O alquimista faz seu sonho viajar por anos luz de distância, sem cessar
No segredo que jaz oculto, no vento que carrega o negrume nebuloso
No som dos trovões, no fogo dos lampejos riscam o céu negro da noite
São memórias em ouro que jamais serão perdidas no poço do oblívio

Todos os acontecimentos têm seu ritmo interior cercado de mistério
Que à tênue, e tanto amarga, fábula da vida não é dado compreender
A tarde voa carregando uma busca de respostas, um jogo de porquês
Em nossa voz há mil palavras impronunciadas num poema não escrito

Contudo tenta dar-se à trama vã um sentido, se ontem por vias paralelas
Hoje convergentes, para nos resgatar desse lago de escassas conquistas
Para decompor o espelho metamorfo das nossas pretensas estabilidades
Na real face de nosso desejo, ocultado atrás das máscaras que vestimos
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Quem, pelo sortilégio próprio da poesia, tem a chave das portas do tempo
E ora vem contar a lenda do peregrino que rompe o vazio com seus passos
Assim me acompanharás invisível, todo o tempo, essa busca inquietadora
Voarei com o vento a abrir nos limbos, caminhos de ausentes presenças

Oponho-me aos obstáculos, luto contra o vácuo e o sonho irrealizado
Abro os espaços em círculo, onde sou análogo à medida de teu corpo
Trocarei as fechaduras, grilhões, correntes e tudo que negar a fábula
Ou nos ligue às convenções, pelo cheiro da terra úmida após a chuva

 Vou te descobrir, sorriso fácil e cabelos dourados num futuro melhor
Atravessando as inúmeras portas por onde a palavra haverá de passar