Eu
desejo voar contente para longe, nas invisíveis asas da poesia
Mesmo que, confusa, a mente se atrase estarei ainda
tão decidido
Meus
olhos um dia não serão como plúmbeas nuvens carregadas
A chover sobre meu rosto infectado de nubladas
esperanças vãs
Num mundo frio, onde nas noites o ódio se cria a
cada esquina
No coração insano que segue preso ao meu peito,
ousará ser feliz
Não
mais a vagar por entre mundos sem amor, de ira e de rancor
Mas
rumo a um mundo de fantasia onde haja um tanto de magia
Onde não se triunfe da nossa aflição e no horizonte
não haja dor
Fui um cavaleiro em armas a viajar pelo astral, vi
agonias demais
Foram
infindáveis lutas cheias de ira, de sangue,
a ferver, remoer
Mas é fato que sobrevivi e já não cabe mais tanto
rancor em mim
Para
que minha existência siga, enfim, liberta de duros remorsos
Irão chegar ao fim os tempos do sofrimento
estampado nas faces
É tempo de colheita e os esquilos se
fartam de avelãs em sua toca
Encontrarei
a dama dos campos. De cabelos loiros e passos leves
Ela
irá me olhar docemente e dará suspiros como se já me amasse
Sei
que minha vida necessita seguir adiante, tanto mais selvagem
Meu coração ébrio tanto já doeu em torpores de
aflição que me vi
Absorvido
pelo ópio nas sombras da massa de almas desgarradas
Tanto fugi do que realmente sou, do pecado de um
triste passado
Ao aceitar meu destino, meu espírito se ergueu de
mares revoltos
Saciei minha fome e a vontade de viver alastrou-se
na minha alma
Não irei mais onde os sonhos jazem natimortos.
Dissolvi, esqueci.
Vou degustar da flora e das verdes campinas. Dos
frutos da vinha
Quero encontrar a linda boca vermelha para beijar.
Então repousar
Por isso estou aqui, sou pássaro, descuidadamente,
a cantar no céu