Nos vagos
olhos que só os da morte reúne, há toda dor que cabe
Neles estão todas as lágrimas do mundo, está meu sereno eterno
Neles estão todas as lágrimas do mundo, está meu sereno eterno
Recordo mil encantos que
flutuam pelos ventos à boca da noite
Levados pelas nuvens açoitadas
por anseios que aguardo vingar
Desejo beijar sua boca, qual desejo é
como o barco deseja o cais
Mas as marés, inscientes do
querer atropelam a rota e é só o frio
Só distância nestes eternos tempos da ausência e incompreensão
Penso em
seus seios, tal o murmúrio das águas cristalinas do rio
Que traz
minha petulância movida pela gula e não pela carência
Mas silencio o verbo se tomado
de culpa nos becos da inquisição
A madrugada oculta as estrelas
como os segredos em suas coxas
E os reinventei
até virem revelar-se, despudoradamente, úmidos
Meu paraíso e fruto proibido, meu
verso liberto de receios vãos
Aquele que é apenas uma gota do que outrora já foi um temporal
Aquele que é apenas uma gota do que outrora já foi um temporal
E aguarda ansioso para
se tornar o oceano e jamais subjugar-se
O que é areia, já foi
tempestade, ora aguarda a rosa lhe faça raiz
No meu sonho, escalas meu peito
como o eremita escala a rocha
Nele faz ninho sem mitos ou
medos, entre o meu e teu horizonte
Lá onde o nosso silêncio seja uma
prece que não precisa ser dita
Perdoe-me se não sou o que cala,
sou antes um grito vivo e hirto
Sempre de peito aberto, de
nudez enérgica, de eficiência poética
Não hás de me querer sem som ou
sem cor entre unhas e lençóis
Posso ser o que abominas, mas não sou aquele que te
vai mentir
Ocultar
dentro da crisálida. Não sou o que não sou nem o que és
Sou muito
mais do que digo ou faço, nem a vítima, nem o algoz.