Meu espírito enverga
um quê de tristeza por estar preso à carne
Que vai se desfazendo com o tempo e por
vezes antes do tempo
O corpo tolhe as asas da alma e lhe abdica
o voo em cru silêncio
Como ocorre com a folhagem que é
derrubada pela chuva forte
Seria natural ser éter, ser luz para
reflorescer liberta pelos céus
Mas, agrilhoada, torna-se pensamento
e o pensamento é miragem
Facilmente
cativo, traz na fronte a mágoa de viver nas planícies
E lhe dói a saudade silenciosa, o
anseio de caminhar pela aragem
A volúpia de esgueirar-se entre os
astros, misteriosamente irreal
Pois minha alma rejeita a prisão,
faz-me pássaro ao sol de outono
Assim descrevo espirais entre os nimbos
como se fossem castelos
Que, muito brancos, contrastam ao tom
vermelho do entardecer
Nessa pintura celeste, ilusão
irrealizada, alforrio meus fantasmas
Também todas lembranças doloridas que meu corpo obstina a ter
Renunciando ao conceito de humanidade, se não for para ser feliz
Então demudar os alicerces e inquietar
a hipocrisia convencional
Curar a miopia
doentia com que olhamos o que realmente importa
E fazê-lo, com mil palavras sem nexo,
sem fronteiras e sem culpas
Cantarolando, alado, onde o vento faz a curva, rumo ao anoitecer