domingo, abril 24

Fantasmas

 Sim, eu vejo fantasmas a bailar na minha frente
Na noite luminosa guarda marcas do calor solar
Imagens invulgares são espectros diante de mim
E lá estava eu olhando os trens na velha estação
Os tantos rostos comuns, tão iguais na multidão
O apito toca, é hora de partir, hora dos abraços

Sim eu vejo fantasmas e alguns nem são mortos
Vejo, como fosse um zíper, os trilhos lá adiante
Para juntar duas partes, qual éramos você e eu
Juntos em uma só vida, mas esse trem já partiu
Eu chamei pelo teu nome, mas já não estavas lá
Nos perdemos na distância que abriu entre nós

Sim eu vejo fantasmas, rápidos a me assombrar
Vindos de um passado sem mapa para retornar
Na poeira dos meus sonhos, minha cabeça gira
Na procura da doce mulher que costumavas ser
Breve se foi qual a pétala que o vento assoprou
E flutuando na luz da lua, se foi para não voltar

sexta-feira, abril 1

5X

 Destacam-se as folhas do calendário, céleres como sempre
Açodadas pela rotação inexorável dos ponteiros das horas
O tempo vaza sem rumo, sem nexo em sua marcha infalível
Ao tempo, apenas os velhos fantasmas resistem desditosos
E que preenchem o vazio impenetrável dessa minha solidão

A dor que apunhala, a ideia que exala, a gala me cala a fala

Descerro a janela do isolamento, deixo entrar uma fímbria
de luz sobre o ranço do passado que me devora as utopias
O sussurrar remoto do rio, o trinado dos pássaros partidos
Entre o bem e o mal sou a fome de resistir à dor desta vida
Entre o certo e o errado sou a sede que adere nas palavras

A dor sentida a cada partida na lida desconhecida da vida

O copo na mão, esta noite, o negrume lá fora faz sentir só
Deixe-me lembrar tua imagem, que ouça tua voz de paixão
Deixe minhas mãos vagarem por teu corpo, qual um dia fiz
Relembrar nesta quietude profunda que eu sempre fui teu
Fazer-te sentir minha, num último beijo prolongado, sonhar

Tempo vassalo, na dor exalo, igualo o que falo e o que calo