terça-feira, dezembro 29

Indagações



Porque aceitas infundado medo brilhar em ti
Será que ainda ignoras que meu reino é por ti
Porque permites que essa dúvida te assombre
Que estás no meu corpo, minha carne e ossos
Porque te concebe que eu possa estar distante
Se quando te ausentas o ar que resta é escasso
Que os meus olhos embaçam a cada despedida
Acaso não concebes a razão de minhas canções
Que é por tua causa a minha pertinaz rebeldia
Saberias, porventura, o peso das noites sem ti?
Que o dia só amanhece depois que te encontro
Deixa de lado as lembranças de todas ausências
Esquece as esperas, os céus negros de angustia
Estamos aqui na reconstrução do novo amanhã

quinta-feira, dezembro 17

As palavras e o tempo



As palavras tardias são como as palavras ausentes
São o grito de liberdade que se franqueou não vir
Essa fala cogente que restou retirada na garganta
Estrelas que apagam, arrastam a luz da esperança
Folhas a cair secas alquebradas ao chão de poeira
O silêncio assim exercita sua tirania e arrogância
E todas alvoradas restam vilmente tintas de cinza

É assim quando se ama mas não revela esse amor
Por isso que hoje quero dizer do meu amor por ti
Sentimento que por vezes faz que tudo se ilumine
Por vezes canta e outras sangra, mas sempre vive
E vivo não se cala, se eterniza para além do tempo
Como o arrepio que percorre o corpo sem porquê
Assim faz com que eu queira escrever que te amo

Sim eu te amo, ainda que isso não descreva o todo
Mesmo todas as frases olvidadas no baú da mente
Minhas ou de outra pessoa que fôra em outra vida
Para celebrar a chama que amainou o frio inverno
E que difundiu o perfume de uma nova primavera
Sim, eu te amo e por isso não se cala o meu pensar
Em te dar e querer de ti o que for o melhor de nós

Quando digo do que penso em verdade me ponho
Mais nu que nas noites que o amor tornado físico
Irrompe a madrugada na troca de abraços e beijos
Se te escrevo é porque o tempo de amar é escasso
Porque o amor em seu tempo futuro chega e passa
Veloz, terrivelmente profundo, suave e devastador
Arrebata a razão quando reivindica a tua presença

Vejo-te dormir, és como os versos ainda inescritos
O poema uma catedral onde residem a dor e a paz
Que vive dentro de mim tal a semente nos campos
Qual será flor e espinho sob o orvalho nas manhãs
Assim enquanto a vida desperta repito que te amo
E sou amor e carícias, mas também sou som e fúria
Quando te esqueces que não sou o tempo passado

Desperto do sono para me entregar à vida contigo
Recordo teu sorriso e o brilho de teus olhos juvenis
Nas memórias que o esquecimento azul consentiu
O sacro e profano de tua pele diante de meu rosto
Mas tu, insciente de meu tão dito e repetido amor
Não acreditas em mim, sofres por medo de sofrer
Os automóveis deslizam na rua furtando o silêncio
Sem que venhas dar conta que te amo e somente a ti