Na triste vida dos relógios sufocados sob a poeira
da vida
A poesia é o avesso da solidão
onde transitam as palavras
As lembranças na sua
transparência, espelham a angústia
E na sombra dessa dor a oculta,
como véu de pensamento
É basilar o tato cristalino para não perder o
vigor do verso
E andar pelos dias entre as veredas
que orlam os moinhos
Desperto no espelho interno pela
ânsia do viver contínuo
O que fazer quando os dias criam
do pensamento, o vento
Que fazer à vida, essa alma sozinha que se arraiga
à poesia
Que é o próprio moinho pelos
caminhos sem algum vento
O que fazer da gravidade vertical da chuva diante do
amor
Para, reduzida à consciência de cada dia, desafiar
a morte
No espanto de nossa
insciência, nosso desejo só de proibir
Cavamos a cada dia, sem cessar, à espera do rigor da
morte
Nosso desaparecimento na tempestade
dos anos olvidados
Nada exaure mais o gosto de fel na boca que a suave
poesia
Amanheço, no novo dia, com a chuva dos anos na
memória