domingo, outubro 21

O Guerreiro


A noite nivela todo o relevo e encerra todas perspectivas
As florestas que o sol, dourado, faz eloquentes, se calam
E assim a noite a tudo abraça espalhando o mistério lunar
No silêncio cinzento do arvoredo, se destaca uma silhueta
Qual fosse se erguer em um palanque salpicado de bronze
Um herói moribundo sob ramagens outonais das planícies
Mas que concentra, em sangue, na memória o seu espírito
O sangue derramado inglório e que nutre uma infinita dor
Sob as nuvens, feitas vermelhas de cem guerreiros caídos
Sua última castanha, caiu entre cabanas vazias e gemidos
Não se ouve o ruído festo das patas dos cavalos a galope
Só os cães ladram, pressagiando a presença do anjo negro
As portas estão cerradas, as casas desertas, tudo é vazio
O guerreiro tem em si uma chama imune às chuvas negras
A iluminar uma réstia de esperança a lhe habitar a mente
Ancorada por golpe da sorte na lembrança mais soberana
Então se esquivar da morte com o coração entre as mãos
Colher pedaços de antigas fantasias e ilusões, uma a uma
Para adicionar aos versos do poema como fossem paixões
Resta a ausência sobre todas as coisas, ganhas e perdidas
Vivências estremecidas e lamentos. Me aproximo devagar
E ele olha e confessa: só eu não morri, todos já se foram
Daí canta uma canção baixinho e o rio corre em silêncio

quarta-feira, outubro 17

Paz Provisória


Beira a um mês que o inverno se despediu da periferia de mim
O sol brilha sobre a estrada que sigo para encarar o inacabado
Para resgatar tudo o que há de ser trazido de volta ao centro
Minhas retinas filtram quão de luz exceda no cenário ao redor
O silêncio devora os minutos, na certeza que os sons logo vêm
Veloz, contudo sem desespero, sigo ao encontro das respostas
Nunca é fácil explicar o que se sente, mas, é fato que se sabe
Certo que a vida tem um quê de feroz e um quê de borboleta
Sigo entre acordes de violino, através de caminhos mais ermos
Digo que a vida é curta e o que vale é a paz, embora provisória
Nos esticamos, dobramos, para usufruir alguns momentos dela
Diante de todo um azul que cobre o horizonte, cristalino azul
É quando sou pássaro e a paz vem a mim, que rumo ao poente
Que vai, primeiro, se tingindo de dourado por alguns instantes
Então a paisagem se revigora em cores que adquirem novo tom
Os dias passarão e um dia retornará abril, a anunciar o outono
Nem tudo pode fazer sentido sob o relógio sonolento da noite
Violetas, rosas, cravos e gerânios agonizam pelas alamedas frias
Esperando que o sol, com seu fulgor, lhes restabeleça a beleza
Dá corda ao despertador impregnado pela solidão dos amanhãs
Quando soubemos que o róseo algodão doce, não é de algodão
Foi então que irrompeu um vento antigo troando encolerizado
Que, cheio de dedos, arranca as flores, que se negaram a abrir

Quisera, até pelo arrasto da rima, arrancasse também as
 dores, motivado pelo fascínio de alguém por este singelo poema