segunda-feira, fevereiro 26

Criação

Relâmpago na noite, o ar parece palavra de aço infinito

Um vinte e seis de fevereiro, frente a frente tão súbito

Vêm os rouxinóis, estrofes, as cruzes acima dos mortos

Sou qual o rio entre páramos tristes, homens e desertos

Os rifles e balas, palavras preciosas e verdades maduras

Rostos ocultos entre espelhos baços, em suas molduras

É como sentir-se ausente ou mesmo um quase não estar

Cantar estrelas como cantam as ondas que vêm do mar

As músicas quietas, o orvalho lento, o aroma das ervas

E tu me olhas, vens, me chamas e entanto não me levas

As tuas mãos de mel num sonho de rubi a fala inocente

Escreve minha pena de menino neste verso adolescente

Meu não soneto, meu poema com rima, fogo que saúda

A história de um anti-herói, a eloquente história muda

Solto meu último suspiro uma carta em meio ao frenesi

Da pétala lilás do goivo, sinto o aroma que emana de ti

E da tua voz mais enorme, mais imensa que a imensidão

Salta uma imagem de deusa, carícia sonora de sedução

Reverbera na cena: transparente, pura, rebelde, audaz

E assim se fez vibrante, fogosa tão eterna quão fugaz

Soa o sino, estalos e faíscas nas nuvens negras do céu

Foi assim que te criei na mentira plácida do meu papel

 

quarta-feira, fevereiro 14

Erro de Modernidade

Será que o erro foi não usar black-tie?

É que imaginei estar tão logo despidos

No teu perfil dizias-te solteira a buscar

Homem discreto e desinibido, moderno

É que meus pensamentos são modernos

Posso te contar fakes das redes sociais

Discreto fingi não ver graxa na tua mão

É verdade não tenho tão só trinta anos

Porém nem mesmo preciso usar óculos

Sei de cor os nomes dos muitos animes

Sei até cozinhar só com o micro-ondas

Já sei, errei em recitar-te meus poemas

E cantar um funk te faria gostar de mim

Esqueci

Esqueci teu nome nas voltas traiçoeiras da minha memória

Mas como não poderia se são tantas as coisas tuas em mim

O teu sorriso branco de pérolas, resplandecente, luminoso

Esteio nessas madrugadas escuras a me mostrar o caminho

Teus olhos a me evitar em meus arroubos de intemperança

Um mel de resistência meio ao pomar de doridas angustias

A tepidez esquiva de tua pele atrás de tênue cortina de ar

A aurora ilumina tua silhueta nua que recorta o horizonte

Também recordo de teus seios me apontando desafiadores

Os mamilos a me convidar, irreverentes sementes de desejo

Lembro de quando vinhas, o timbre harmonioso de tua voz

Dizendo-me que odiavas estarmos tão e tanto tempo longe

Que não importavam quais as incongruências do cotidiano

Que acordar ao meu lado dia a dia, era tua maior ambição

E eu, em meu perfil pensativo te olhava dormir nas manhãs

Vendo repousar em ti todo afeto que nos permitimos viver

Teus cabelos dourados em ondas, como campos de trigais

Dispersos sobre os lençóis refletiam toda volúpia da noite

Jamais olvidei, as curvas mais recônditas da tua anatomia

A essência mais profunda que alguém ousou compartilhar

E como recordar teu nome se és encarnação una do amor