segunda-feira, setembro 21

Violetas na Janela

 

Ó vinho ergo-te na taça calorosamente em brinde

Meu coração, este fardo aflito, me dói, mas feliz

Nem um minuto faz de tua partida, já és saudade

Trama melodiosa de meus sentidos, sombras nuas

Tua cor rubi que preenche os espaços até a borda

O aroma do incenso flutua pelo ar a que perfuma

As violetas e outras flores anunciam a primavera

Minha porção alada nas espirais do desconhecido

E tu diz-me tão radiante: hoje quero voar contigo

Manchar a tua boca com a cor púrpura da minha

E te digo musa minha cantarei as estações para ti

Perfumarei o teu corpo com exóticos almíscares

Nosso amor não nasceu para morrer sob este céu

A noite se aproxima e já ouço essa voz conhecida

Que antecipa tua chegada como se fosse melodia

Janelas abertas por onde se esvai a minha solidão

Para além da campina, dos riachos, meu devaneio

 

quarta-feira, setembro 9

Faces de Carvão


Chega a noite e suas faces ocultas de carvão, segregam o negrume
Espalha-se no ar, entre signos de um sonho azul, uma música antiga
Que ecoa no concreto da selva urbana, onde agora é tudo distante
No silêncio do meu quarto, é tanta solidão que a sombra faz ruído
Ouve-se o mover de passos ausentes e sente-se o calor da ausência
Por todas as indagações que ficaram nesses caminhos mal traçados
No reflexo baço de indesejadas memórias de um adeus que não dei
A ventania dos tempos bate seus cascos pelos desertos anunciados
Os trens do isolamento carregam a dor da tristeza que viaja em nós
O grito súbito da noite alerta para a faina diária, lâmina viva do dia
A geometria silenciosa da madrugada traça a parábola da escuridão
Nas dobras da palavra, o poema frágil e transitório, afinal recompõe
As linhas que o destino capta e nos aprisiona em verdades relativas
Eu, pássaro e minhas asas em chamas a sobrevoar o pó das estradas
Recolho as tempestades em cor e som na perpétua roda dos tempos
Apesar da cegueira dos que nos julgam, um novo dia há de renascer
Com a luz do dia tudo irá reflorir no sonho límpido dessa primavera