segunda-feira, abril 19

Nosso amor

Não se entenderá sobre amor ligando-o ao curso das horas
Essa cilada poderá levar à ideia, sem razão, que os grandes
Amores careçam de longo tempo para se tornarem grandes
 
Como não te amar ora se és a melhor imagem de eternidade
Desligado da ideia desse tempo racional, tão fugaz e efêmero
Que consome a beleza, a força, as memórias, consome a vida
 
Não se entenderá o amor julgando-o à luz de erros passados
O passado foi apenas uma lição que se tornou a experiência
Sabe-se em química, que se pode tentar por vezes até acertar
 
Como não te amar já se és a minha própria imagem refletida
Se és o que tenho de especial e nossos caminhos convergem
Os opostos só se atraem na física, não na vida e nem no amor
 
Não se entenderá o amor se não se vivê-lo intenso e sem limites
O amor não aceita que se o fracione, esquematize ou comprima
Para que caiba na expectativa de quem vê a vida de forma linear
 
Como não te amar se na tua ausência minh’alma chora de vazio
Se és o carinho que me acolhe o espanto na hora que a dor vem
Recolhe meus pedaços me refazendo como o melhor que já fui
 
Não se entenderá o amor se não souber do fogo que nos invade
Que nos arrebata, que nos retira os corpos do controle racional
Fazendo-nos tal deuses, elevando-nos entre as nuvens do Olimpo
 
Como não te amar se em meu projeto de vida está tua imagem
Se és meu alicerce, as colunas que me sustentam e meu telhado
Lembrar de ti é lembrar do cheiro das flores, da doçura do mel
 
Não entende de amor quem procura os porquês de nosso amor
Nosso amor apenas é, assim existe. Sempre será um hino à vida
O amor de Romeu e Julieta não demorou anos para acontecer

terça-feira, abril 6

Ciclos

 A tarde se cobre de tonalidades cinza de um novo abril

A névoa densa a beira mar a anunciar um tempo sombrio

Está já distante da primavera, mais próximo dos soluços

O vento frio a mostrar suas asas sobre toda a terra crua

Na planície de brancos reflexos do dia, um grito partido

O sol se deita dolorosamente nesses horizontes infinitos

Deixando sua esteira rubra sobre o azul límpido do mar

Dos barcos, as velas distantes, se assemelham a adeuses

Meus olhos as contemplam como a indagar por onde irão

Serão esperadas em outras terras ou apenas vão a passar

Toda a paisagem se apropria dessa melancolia do outono

Uma saudade que aperta a garganta sem se saber porque

A tarde se despede quase moribunda, a noite já espreita

As gaivotas, tristes, cantam pelos barcos que já se foram

Minha voz também se foi e a chuva vem para se anunciar

Com ela também o meu cansaço e meu coração mendigo

Treme, como uma criança perdida ao fragor dos trovões