Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
segunda-feira, setembro 25
Areia Movediça
Há dias em que a solidão parece uma cidade inteira
E sua arquitetura a companhia de estranhos signos
Rostos mudos entre as árvores ou nas constelações
Num reino de pedras e ossos, que não nos pertence
Onde um amor é símbolo de teoremas indecifráveis
Uma música orquestrada, composta em clave de fá
É nesse cenário que busco por teus rastros ocultos
Estranhos amantes, reunidos por um pacto secreto
O ar de sal do mar é a bruma que turva a paisagem
E o sol adventício que raiou na fronteira do sonho
Pisa as areias movediças da incerteza e do espanto
O pó bate em minha face, as flores turvas e débeis
Exibem no verde de sua raiz, o paradoxo cotidiano
As flores cantam em meu delírio, metais preciosos
Somos onda, pó brilhante, areia e mar enamorados
E o coro da morte nos oferece o indesejado cálice
Protagonizo meu próprio drama, a plena liberdade
A palavra arde na língua e é folha de veludo suave
Esplêndida e atroz é um amor que, voraz, espreita
Espirais secretas, memórias, o rumor d’uma fábula
O rito do pêndulo que repete, instante a instante
É o tempo a maior fábula, a ilusão em nosso sonho
Somos hospedes do tempo ou os seus prisioneiros?
De semente a árvore, somos os condenados do ser
sexta-feira, setembro 15
Tormenta
Em plena tormenta ela era qual um sol na noite
Farol que nunca se apagou na minha escuridão
Sua rebeldia era verdade, face a tanta mentira
A outra face quando muitos não quiseram ver
A estrada ao não paraíso, anarquista e trágica
Utópica rosa libertária, se o exílio não a
fez flor
Tampouco podou-lhe os espinhos e as palavras
Eram os anos 70, o chumbo na novela histórica
Era parte da circunstância social ser perverso
Vigiando no menor descuido, uma palavra mais
Corria-me nas veias o fogo sagrado da rebelião
Ela era meu esteio, meu fiel e a minha guarida
Sempre ocupei meu lugar, sem pedir permissão
Ela trazia-me o limite seguro, na palma da mão
Em vez da espada deu-me papel e esta caneta
Em vez de bombas, deu-me o poema libertário
Com os quais, a cada dia abato meus inimigos
Mas aquela manhã ela não veio, ou a seguinte
E nunca mais, ficando a questão irrespondida
Como seria seu vingador, de sangue ou tinta?
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