Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
quarta-feira, maio 29
sexta-feira, maio 24
Poema, poeta e coisas mais.
Lembras dos breves dias de junho que estão batendo à
porta?Lembras os morangos silvestres ou das gotas rubras do
bordôLogo mais nada teremos a celebrar senão um mundo
mutiladoA vida é qual viagem de
trem: partida, já não se pode refazerAh, o sol parecia tão delicado à nossa juventude
preocupadaCom sua luz que, errante, aprofundava as cicatrizes da
terraAmava escrever no silencio da noite na quietude de
catedralTudo tão quieto, calmo, cheio, intenso qual fora uma
prendaNo instante limítrofe do adormecer, pouco antes dos sonhosSinto vir uma euforia (enjoado de realidade) a abrir a
cortinaTecer versos de poema entre o lápis e a máquina de
escreverMadrugada, silêncio, o que escreves e ninguém entende bemLeio poetas vivos e outros mortos e sou um tanto como
elesOlham-me vivo, por certo,
todavia por vezes sinto-me mortoFerido entre árvores estéreis em sua pura indiferença
verdeVejo meu carinho exilado
e ser correto sem ser reconhecidoPensei em ti e também no vazio, vejo pássaros pretos a voarSe já não sou jovem tenho fé e orgulho, cada dia mais
velhoQual a moeda de prata
que, aos poucos, desgasta sua formaMas, nem por isso perde um cêntimo do valor
que expressaQueria poder me curar das ironias, dos olhares superficiaisQue veem mas não penetram
são mais atrozes que o silêncioQueria poder mesmo não
admitir que tenho certos defeitosNa escuridão desta voz que conta e mede, lembra e
ignora!
domingo, maio 19
Desatino de Outono
O outono vai caindo das árvores e deixa um vazio de suspiro
A espera é uma estação de trem num domingo azul qualquer
Os pássaros abandonam os galhos monótonos, vão ao oriente
Aprendemos a musicalizar o velho bronze fazendo-o um sino
Que soa postando os fiéis aos joelhos, encharcados de rezas
Entretanto, não fará ver os mortos nem fará ouvir os surdos
Ando pelas ruas empedradas e a lua se esconde nas esquinas
Enquanto flores e carnes disputam na prateleira no mercado
Foi assim que descobri o amor no teu beijo, vertiginosamente
Estavas impropriamente alegre, embaraçadamente romântica
Nossas faces rubras, nosso sorriso de criança comprometido
As partículas do tempo deslizam por dias mais e mais velozes
Nada é qual já foi, o pássaro
solitário no telhado espera o dia
No sinal está o rapaz na rua que, esfomeado, brinca de circo
E as lágrimas derramadas se esmiuçam como migalhas de pão
É como chegar às profundidades,
deixar irremovível lamento
Ante essa voz, o desfolhar da folhinha, sorte estar incólume
A cidade transpõe paulatinamente, dentro da noite em luzes
Saboreamos com ritmo todos olhares, o sorriso que nos uniu
Entretive-me em refazer tua imagem, corpo em telas e cores
Entretive-me em tecer tua memória com palavras escolhidas
Encontrar-te foi um ínfimo de lucidez em todo
meu desatino
quarta-feira, maio 15
Noturno 6.9
Os sinos d’antanho se desdobram num cortejo
de partidas imemoráveis
Um instante rústico que rutilou minha
coleção de imagens esmaecidas
Flores da manhã expetaladas, onde escondi o
rosto na carga das horas
Desenhei um poema com palavras desmedidas no
silêncio das sombras
Apenas mais um ato na construção dos fatos,
um grito mudo na boca
Na mão côncava, uma mainça de terr’arada,
instante de logro e tédio
Se hoje são manhãs de mornos albores, há
uma década fora só abismo
Flashes de vida entre parênteses, vi nas
sombras o caminhar da morte
U’a tarde outra noite vi o laço do espaço em fúria, vi o vulto
do luto
Senti a lâmina fria e se fizeram insignificantes
todas as demais chagas
Senti o fio agudo vir de
dentro do peito, ouvi o grito surdo do adeus
O destino sinou-me a tal passagem e ainda esquivar do brilho do
aço
Descobri quanto o tempo pode ser avaro, descobri o dia pelo
avesso
Sei que a morte anda vizinhando e o dia que chegar não haverá
aviso
Nesta várzea grisada de perguntas as quais carrego desde a
infância
Mas, algo me diz que não é hora de desatar os laços das
lembranças
Ainda não aprendi a viver segundo receitas numa conduta ordinária
É o extraordinário que instila a forma que nascerão os meus
versos
Tortos eu sei, são a insígnia personificada d’uma juventude
rebelde
Certo ou errado, são silêncios passageiros, não há solidão na
poesia
Foi assim que rejeitei atitudes que teriam me levado à riqueza
fácil
Recebi em troca, o benefício de cruzar portas co’a cabeça
erguida
E deitá-la no travesseiro certo que mistérios são só fábulas
infantis
E o que nos resguarda são perguntas que só o sonho tem respostas
Da verve inconformista, à resignação que jamais preencheu o
vazio
Efêmero que sou, escolhi a insanidade, a lucidez carece ser
infinito
segunda-feira, maio 13
De vingança
Os corvos voam entre macieiras espalhando o polem
Fora de ti tudo o que resta é meu escrito amputado
Os meus ouvidos fatigados e minha memória pesada
Enquanto maio esmiúça a raiz das febres de menino
Ergo os olhos como se te visse neste dia de desvario
Isto me parece uma pretensão um tanto antagônica
Posto que não tenho nenhum pretexto para te falar
Já que até o livro que te emprestei, tu o devolveste
Aguo a terra com o regador, brotam dentes-de-leão
Pelo jardim o gato corre lá e cá a espantar pássaros
Qual eu corria ao teu encontro enquanto tu fugias
Mas o amor foi a flor que morreu por falta de regar
Confesso que choro ao cortar cebola para o molho
Choro junto com quem chora por ler meus poemas
E recordo ter conhecido cada rincão de teu corpo
Cada fibra, cada músculo e cada milímetro de pele
Mas se nada escrevi no poema é que fui cavalheiro
Por um momento meus pensamentos fluem qual rio
Inundando-me a cabeça com a imagem de teu rosto
De vingança vou escrever um verso nu e te dedicar
sábado, maio 11
Cena de Bar
Foi um tempo em que ainda
não conhecia teu lábio sagrado
Vesti uma máscara tranquila
no inexistente tempo da noite
E eu vivi a noite boêmia
desdobrada atrás de cortinas sujas
Em personagens pitorescas
nas esquinas escuras da cidade
A sorver o ávido, cálido
cálice de licor ao pé da madrugada
Á porta da casa uma sombra,
quase vertigem, agita as mãos
Aquele que rejeita seu pão é
aquele a quem cabe os restos
Um solene iletrado se acerca
para ler o poema que escrevo
Mostra obscuro rancor
porquanto meu escrever filosófico
Entanto não sou enquanto
poeta mais do que é meu escrito
Mas sei que vale dizer-lhe
que se à noite todo gato é pardo
É, por paradoxo, a luz o que
faz as sombras mais profundas
Uma multidão de ausentes
envolta na sua vigília indesperta
Recolhe as migalhas do
banquete ao qual não foi convidada
Assim guarda no coração tudo
de iníquo que encontrarem
No dia seguinte serão
contadas tantas histórias inexistidas
Os traidores, suas pálpebras
semicerradas e olhos oblíquos
Levantam fingindo respeito
para saudar a quem desprezam
Os bêbados transportam suas
frágeis certezas até as mesas
Avançando pé ante pé pela
vacilante monotonia dos copos
Numa mesa de canto, observo
todas as cenas desse enredo
Inglória busca ao amor
perdido, que nunca pude encontrar
Ela passou por mim com seu
hálito de hortelã e eu nem a vi
quarta-feira, maio 8
Pampa Submersa!
Na espera do amanhecer, chegou a chuva e seus mortos
Olho a estação vazia e os trilhos uma longa língua cinza
Vejo a cauda de fumaça da locomotiva na cena distante
O ar vibra ao som da harpa e traz a mensagem dos anjos
As pessoas do trem seus corpos escurecidos de tristeza
Choram lágrimas de sangue, soluçam os pássaros mortos
O coro das ausências, em fileiras aguardam no cemitério
Na espera da luz e a morte vem detrás de tantas pupilas
O sangue derrama-se sobre a bandeira lavada de pranto
Por amargas sombras de nuvens na revolução das águas
A insônia rouba os sonhos, inundando tudo às centenas
As pessoas reunidas, mas não há festejos, riso ou canto
A lua desnuda a tudo assiste, boquiaberta, terra abaixo
As aves de rapina agindo livres, as serpentes de espanto
Na espera do dia, os perigos da noite seguem arrastados
Há uma busca atormentada pelo último torrão de terra
Uma talisca de chão seco e enfim expulsar as cascavéis
Povo que padece nas caravanas ao sul azul do cruzeiro
Vãs promessas mirabolantes, inexequíveis e ultrajantes
Oprimidos e inermes meio a contingências improfícuas
Conservam a esperança nativa da gentil alma brasileira
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