Essa amargura feita de angústia me persegue noite
adentro
Essa melancolia das horas mortas que se contempla o
nada
Que tira do rumo um projeto de futuro pelo tempo
efêmero
Eu que já fora faminto pela eternidade já não mais a
almejo
E os vorazes minutos devoram a parca areia da
ampulheta
Que criatura sou? Que pensa, que sofre, que ama, que
sofre
Do pó ao pó, iludido, sobrevive tão-só para um dia
morrer?
Sozinho pelo inexorável tempo até que a terra o
consumirá
No negro silêncio dos céus sem estrelas jaz toda
esperança
No inconsciente o visgo da culpa de ter tentado me
refazer
Não mais me assoma o esforço ingente de soerguer as
asas
E voar rumo ao horizonte onde acreditei morasse a
poesia
Mas é tarde, já não há volta e o sonho se quedou no
oblívio
Sou uma caricatura triste de mim mesmo alisando
palavras
E meu coração já não bate, se esconde no peito que o
abriga
De tudo, nesta malograda aventura, não há herança a
legar
Senão horas a fio a lutar contra a secura da mente e
o papel
Contudo, amparado pela teimosia, sigo, certamente
errado
Numa inútil espera por um momento mágico de
inspiração
Em que a pena acarinhando versos me torne, assim,
imortal.
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