Sou o pássaro que marca os céus contra
o cinza da tarde
No voo súbito que provém de
recriar o traçado da fábula
Compõe suas asas fugitivas para
desfazer o caos poético
Na caça da resposta para o
conflito surdo dos contrários
Sou a sombra peregrina e muda, cativa
do contorno real
Na dobra das palavras omitidas nessa
realidade subjetiva
A ventania esboçada na rota
oposta do tempo vespertino
O núcleo indevassável da essência
emaranhada do poema
Sou a múltipla alquimia da razão
entre o fogo e o carvão
Na condição líquida de unidade da
pedra anterior ao ser
Por todo o percurso que transmuta
a fórmula do existir
Como ponto oculto de sabedoria de
cada mente criatura
Sou um surto de realidade a
curvar-se ao tempo natural
A verdade só se observa ao
abandonar a ilusão da razão
A luz é matriz no labirinto dos
versos, antídoto em cor
‘Felix qui portuit rerum
cognoscere causas’ diz Virgílio (*)
(*) Versículo 490 do Livro 2 do
Georgicas (ano 29 a.C.),
do poeta latino Virgílio (70 a
19 a.C.) e pode ser tra-
duzido para "Feliz daquele
que é capaz de conhecer
a causa das coisas".
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