Chegaste
Chegaste depois que vida percorreu tantas curvas e veredas
Mas, enfim que chegaste
para desfazer as presenças antigas
Ocultadas pelo pó cego de
uma arcaica noite que carregava
Move-se dentro de mim uma
paixão, qual um animal irascível
Caminhando sempre cá e lá entre as sombras de meus
sonhos
Em busca dos esparsos
íntimos minutos que são nosso esteio
Viverá
na esperança de renascer nesses belos minutos do amor
Da
troca de olhares, da permissão de olvidarmos nossas idades
Resgatando a adolescência
onde tudo é simples para a paixão
Mesmo cavalgar cavalos
marinhos pelas tempestades que vêm
Até dizer eu te amo, ainda quando
nada parece fazer sentido
E nos sentimos qual uma nuvem perdida boiando no horizonte
Chegaste quando a vida já
gravou mil cicatrizes na minha pele
Mas, enfim que chegaste
para me permitir olhar ao outro lado
Talvez sorrir, ainda que minha estrada se margeie de
espinhos
Para
ousar arvorar-me fora das cinzas do tempo, te dar a mão
Ver que
o destino gravou teu nome nas pedras do meu caminho
Para
que eu siga sem me perder, sem jamais temer os fantasmas
Se nada
é como se esperava ser, este amor urgente sobrevive
A
esgueirar os olhos entre estrelas deserdadas, pulsar febril
Onde os
sóis foram dilacerados em palavras roucas ao vento
Num
mundo que devaneios cegos preenchem a tarde amarga
Toda música
foi trocada pelo silêncio que me cerra os lábios
Mas a
palavra certa resiste, solitária, neste coração de poeta
Chegaste para que eu escreva a última palavra noturna
do desejo
No vento do
outono que virá, em breve, a soprar as folhas mortas
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