Fábula Social
Não escolhi este lugar disforme no enorme vácuo dessas vaidades
Este lugar apinhado com inúmeros perfis, quais tristes
procissões
Formam fabulações vivas a percorrer os sentidos, crispar os
olhos
Entre as nuances invisíveis que se projetam no fulgor dos sonhos
Não pretendi estar aqui entre sorrisos simulados e silêncios
gentis
Um mundo que vale o que se tem por exibir e etiquetas elegantes
Ocultos atrás de máscaras eles expõem à realidade os contrários
Surgem por impulsos, na trama obscura, que é a matriz da dúvida
Repassam as palavras, após torcidas pela fricção nos sentimentos
Dão gargalhadas desatadas e ácidas na teia negra das simulações
E o que era segredo transparece em cordões de frases brilhantes
Mas nada se pode fazer, só retorcer a boca num sorriso metálico
Entre eles, meu pássaro tem a voz silenciada, tem os olhos mudos
Sente-se exilado, solitário meio a um reino de trevas sem
essência
Abandonando qualquer trejeito de surpresa que viesse conservar
Reserva seu voo em busca daquele sorriso de prata d’outros ares
Tudo que jazia adormecido ressuscita em sua forma evanescente
O pensamento que é anterior ao ser se liberta em nítidas imagens
Os vestígios de tua meiga lembrança perduram sempre invioláveis
Residem, inesquecíveis, no mais belo círculo da minha imaginação
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