Porque por
vezes me dás essa sensação de abandono, que te falta?
Sei eu não
espelho a perfeição, nem perto disso, nem o que espero
Eu queria
aprender a velejar nas tuas leis, mas não te compreendo
É sempre esse
silêncio em que só tu que falas, mas não me escutas
Permaneces
distante mesmo presente, chegas no corpo não a alma
Mesmo que eu
me reparta em tantos não me entendes em nenhum
Tenho um pomar
nos meus versos, delicados tal o pêssego maduro
Intensos qual
o rubro das amoras, doce como as cerejas que colhi
Por vezes, reconheço,
azedos qual o maracujá e ainda são só teus
Mas é a tua
ausência o caderno onde escrevo os poemas noturnos
Enquanto as
flores fecham suas pétalas e reservam seus perfumes
Nessa longa
espera, até que o novo dia e outra espera amanheçam
Cada manhã eu
renasço na esperança que ao chegar venhas a mim
Pois a paixão
mora em mim, bem fundo em meu coração alucinado
Dessa minha
adolescência tardia, que fiz só para estar ao teu lado
Descansa esse
lado pedra, que te quero flor, para regar não colher
Tira das costas
o peso de ficar em guarda, eu me inventei só prá ti
Depois vem,
que tenho fome de amor, corpo e alma, vamos brincar
Correr pelas
campinas, de mãos dadas, deitar na relva e apenas rir
Seguir pelo
rio, rumo ao mar onde, enfim, eu possa morrer de amar
Como poderia eu
imaginar que há dois anos atrás o amor venceria
Noites tão imensas
em um coração desolado a lamentar o futuro
Recordo que quase te
perdi nos planos opacos que o destino faz
Hoje te precipitas
em meus sonhos dos quais retiro estas palavras
Qual se pudesse
extrair da linguagem algo do que significas a mim
Quando estás
distante, penso que não existes senão em meus olhos
E que te imaginar
minha é só a forma de abstrair o mofo das horas
És o pão de toda a
ternura que me resgatou dessa solidão feérica
Que me incendiou a
carne e também a alma nas transversais do dia
És aquela que deita
minha pena ao papel me resgatando do silêncio
Que retirou meu
coração da sombra que vivia no varejo das horas
Fazendo o sol
comparecer em mim no oásis que és meio ao deserto
Ao teu lado sou
menino e me cego às dores de dias ácidos e febris
Ainda resistem na
garganta resinas amargas que contigo se diluirão
Anseio te dar o que
for o melhor de mim, do que a vida me ensinou
Dar asas à ternura
para planar em tua direção nos ventos do amor
Que seja leve e
brilhante como a brisa entre as árvores nas manhãs
Se não posso mais,
recebe este poema, fruto do bem que quero a ti
Flor da minha
primavera, perfume das minhas flores, cor do meu dia